Mostrando postagens com marcador Fórmula 1. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fórmula 1. Mostrar todas as postagens

domingo, 15 de dezembro de 2019

Escrito por em 15.12.19 com 0 comentários

Fórmula 1 (VII)

No hoje já longínquo ano de 2006, eu fiz aqui uma série de seis posts sobre a história da Fórmula 1, cada um cobrindo uma das décadas da categoria. Evidentemente, o último post terminou em 2006 e não cobriu a década inteira, mas, mais tarde, eu o atualizei e completei as informações. Nesse post atualizado, eu comentei que "se o átomo durar mais uns dez anos", eu faria mais um.

Adivinhem só: já se passaram dez anos! Bom, na verdade não, já que eu fiz a atualização em 25 de fevereiro de 2010, mas o que vale é que já se passou tempo suficiente para que eu possa falar de mais uma década. Hoje, portanto, mais uma vez, é dia de Fórmula 1 no átomo!

2010-2019

Até meados da década de 1990, era relativamente fácil montar uma equipe de Fórmula 1. Como a única parte do carro que a FIA exige que seja fabricada pela própria equipe é o chassis, era perfeitamente possível que um investidor qualquer comprasse todos os outros componentes, muitos deles a preços módicos, contratasse um jovem piloto em início de carreira, e pronto, uma nova equipe estava no grid. A partir da década de 1990, entretanto, um aumento estratosférico nos custos dos componentes dos carros, devido, principalmente, ao avanço da tecnologia e a novas normas de segurança, fariam com que essa realidade garagista passasse a ficar cada vez mais distante. Desde a década de 1960, o número de equipes no grid variava entre 15 e 20 - com o recorde sendo 21, na temporada de 1989 - mas, em 1996, ele se estabeleceu em 11, e, entre 2003 e 2005, foram apenas 10, assim como em 2009.

Dez equipes significavam apenas 20 carros no grid, número que a FIA considerava muito baixo. Para evitar que ele se reduzisse ainda mais, para a temporada de 2010 a federação estimularia a entrada de novas equipes, oferecendo a elas uma série de benefícios, o principal deles sendo o de que as equipes já existentes iriam fornecer às novatas partes para seus carros a preços de fábrica, e suporte técnico para essas partes totalmente gratuito. O intuito da FIA era aumentar o número de equipes para 13, mas ela receberia nada menos que 15 inscrições, a grande maioria delas de equipes de outras categorias de monopostos, que desejavam se aventurar na Fórmula 1.

Após um processo seletivo, a FIA escolheria suas três novas equipes: Campos Meta, uma nova equipe criada pelo ex-piloto espanhol e dono da equipe Campos Racing da GP2, Adrián Campos, em parceria com a empresa espanhola de publicidade esportiva Meta Image; Manor Grand Prix, uma equipe de Fórmula 3 que desejava subir de categoria; e USF1, uma equipe 100% norte-americana, criada pelo projetista Ken Anderson e pelo jornalista Peter Windsor - a USF1 era de especial interesse para a FIA, pois, nos Estados Unidos, a Fórmula 1 sempre perdeu em audiência e popularidade para categorias nacionais como a Nascar e a Fórmula Indy, sendo praticamente um ponto de honra para a federação aumentar a penetração de seu principal produto nesse mercado tão fechado. Após a escolha das três novas equipes, a BMW anunciaria estar se retirando da Fórmula 1, o que levaria a FIA a escolher uma quarta equipe nova, a Lotus Racing, que não tinha nada a ver com a clássica equipe fundada por Colin Chapman (cujo nome era Team Lotus), sendo controlada por um grupo financeiro da Malásia. Pouco depois, porém, a Sauber anunciaria seu retorno, o que faria com que o número de equipes no grid aumentasse para 14. Pelo menos na teoria.

Antes mesmo de a temporada começar, as equipes estreantes sofreriam com inúmeros problemas financeiros e de gerenciamento. Em decorrência deles, Adrián Campos desistiria de seu projeto, e venderia a Campos Meta para um investidor que a renomearia para Hispania Racing. A Manor conseguiria um gordo patrocínio do grupo Virgin, do milionário Richard Branson, mas, em troca, mudaria de nome para Virgin Racing. E a USF1 abriria falência em março, sequer chegando a estrear - durante meses, correram boatos de que ela estrearia ao longo da temporada, mas acabou que a equipe norte-americana sequer sairia do papel. Além disso, a Toyota anunciaria sua saída, o que faria com que o número efetivo de equipes no grid fosse 12 - como a temporada já estava perto de começar, a FIA optaria por não escolher nenhuma equipe nova, temendo que ela passasse pelos mesmos problemas que as outras e também não pudesse estrear.

Após o início da temporada, a sorte das equipes novas não seria melhor. Com carros claramente inferiores aos demais, elas praticamente disputavam as últimas colocações, sequer ameaçando as mais fracas das antigas. O único tipo de "ameaça" que as equipes novas ofereciam, de acordo com os pilotos mais experientes, era à segurança, já que, com carros muito mais lentos que os demais na pista, o risco de acidentes era maior. No final, o plano da FIA não daria muito certo: a Hispania mudaria de nome para HRT, e deixaria o campeonato ao final da temporada de 2012; ainda em 2012, a Lotus Racing, com a volta do Team Lotus, mudaria de nome para Caterham, abandonando a categoria ao final da temporada de 2014; e a mais bem sucedida seria a Virgin, que já em 2011 passaria a ser controlada por um grupo russo e a se chamar Marussia, em 2015 retornaria para seus donos originais e voltaria a se chamar Manor, e abandonaria ao final da temporada de 2016. Desde 2017, aliás, o número de equipes se estabeleceu em dez, mas agora parece que a FIA já não se preocupa mais em aumentá-lo.

As equipes novas, entretanto, foram apenas uma grande curiosidade na temporada de 2010. O maior destaque ficou por conta do retorno da equipe Mercedes, que havia deixado a Fórmula 1 em 1955. A montadora alemã anunciaria a compra da equipe Brawn, campeã em 2009, e contrataria Michael Schumacher, que deixaria a aposentadoria para capitanear um time 100% alemão, ao lado de Nico Rosberg, filho do campeão de 1982, Keke Rosberg. Na dança das cadeiras, Jenson Button iria da Brawn para a McLaren, para ser companheiro de equipe de Lewis Hamilton, na primeira vez em que uma mesma equipe teve os dois últimos campeões mundiais desde a própria McLaren, com Ayrton Senna e Alain Prost, em 1989; seu companheiro na Brawn, Rubens Barrichello iria para a Williams; e Fernando Alonso sairia da Renault e iria para a Ferrari ser colega de Felipe Massa, no lugar de Kimi Räikkönen, que anunciou que tiraria um ano sabático ao final de 2009.

Falando nos brasileiros, Barrichello terminaria em décimo lugar no campeonato, tendo como melhor resultado um quarto lugar, e Massa, com quatro pódios (dois segundos e dois terceiros lugares), seria o sexto. Dois novos pilotos brasileiros fariam sua estreia em 2010. Um deles seria Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, que estrearia pela Hispania, na qual correria apenas essa temporada; em 2010, ele começaria como piloto de testes da Renault, assumindo, no meio da temporada, o lugar do alemão Nick Heidfeld; e em 2011 iria para a Williams, na qual conseguiria seu melhor resultado, um sexto lugar no GP da Malásia de 2012, trocando a categoria pelo Mundial de Endurance ao final desse ano. O outro seria Lucas di Grassi, que faria sua única temporada na Fórmula 1 pela Virgin, tendo como melhor resultado um 14o lugar também na Malásia.

A temporada de 2010 teria um total de 19 provas: Bahrein em Sakhir, Austrália em Melbourne, Malásia em Sepang, China em Xangai, Espanha em Montmeló, Mônaco em Monte Carlo, Turquia em Istambul, Canadá em Montreal, Europa em Valência, Inglaterra em Silverstone, Alemanha em Hockenheim, Hungria em Hungaroring, Bélgica em Spa-Francorchamps, Itália em Monza, Cingapura em Marina Bay, Japão em Suzuka, Coreia do Sul em Yeongam, Brasil em Interlagos e Abu Dhabi em Yas Marina. A corrida da Coreia do Sul quase não ocorreu: o circuito de Yeongam só seria aprovado em 12 de outubro, menos de duas semanas antes da data marcada para a corrida, 24 de outubro. O Canadá voltaria ao calendário após um ano fora, e o circuito do Bahrein ganharia uma nova seção que aumentaria o traçado original em quase 1 km; apelidado de "circuito endurance", essa seria a única vez em que esse traçado seria usado na Fórmula 1, que voltaria a usar o original a partir do ano seguinte.

Em termos de regulamento, a maior novidade da temporada de 2010 foi o fim do reabastecimento durante as corridas, que havia sido reintroduzido na temporada de 1994; desde 2010, como ocorreu entre 1984 e 1993, os carros devem usar durante a prova apenas a quantidade de combustível com a qual a começaram, não podendo parar nos boxes para colocar mais. Outra novidade seria uma mudança no sistema de pontuação, que passaria a contemplar os dez primeiros colocados de cada prova, ao invés de os oito primeiros. 2010 também seria a última temporada na qual os carros usariam pneus Bridgestone, com a fabricante japonesa anunciando que não tinha interesse em continuar fornecendo-os após o fim do ano, e a italiana Pirelli sendo escolhida pela FIA para substituí-la a partir de 2011.

Apesar de todo o estardalhaço em torno da dupla de pilotos da McLaren e da volta de Schumacher, o campeão de 2010 seria o alemão Sebastian Vettel, da Red Bull Racing, então em sua quinta temporada, segunda pela RBR, e que se tornaria o mais jovem campeão da história, tomando o recorde que Hamilton estabelecera dois anos antes. A RBR dominaria os treinos, com Vettel e seu colega de equipe, o australiano Mark Webber, conquistando 15 das 19 pole positions possíveis; nas corridas, o duelo seria entre Vettel e Alonso, com cada um conseguindo cinco vitórias, mas o espanhol da Ferrari terminando o campeonato quatro pontos atrás do alemão campeão. Webber conseguiria quatro vitórias, Hamilton três e Button duas; Schumacher, talvez de forma decepcionante, não conseguiria nem subir ao pódio, tendo como melhor resultado três quartos lugares e terminando o campeonato na nona posição, duas atrás de seu colega Rosberg, que conseguiria três terceiros lugares.

Entre as temporadas de 2010 e 2011, um acidente abalaria a categoria: o polonês Robert Kubica, tido como uma das maiores promessas da Fórmula 1, enquanto corria em um rally em Andorra, sairia da pista e se chocaria contra uma casa, o que causaria múltiplas fraturas em sua mão, braço e perna direitos. Os médicos estimariam que ele levaria pelo menos um ano para se recuperar totalmente, mas Kubica só conseguiria retornar à Fórmula 1 em 2019, e, mesmo assim, com sequelas que impossibilitam os movimentos de sua mão direita, sendo necessário que ele use um volante especial. De qualquer forma, seu retorno foi uma grande vitória, pois houve quem apostasse que ele jamais retornaria.

A temporada de 2011 mais uma vez teria 19 provas, mas com três alterações: o GP da Alemanha, seguindo uma determinação contratual, voltaria a ser realizado em Nürburgring; o GP da Índia, em Buddh, faria sua estreia; e, devido a protestos contra o governo, o GP do Bahrein acabaria cancelado - a ideia original era realizá-lo mais à frente no campeonato ao invés de como prova de abertura como em 2010, mas problemas logísticos acabariam impedindo que isso se concretizasse. Na parte técnica, a maior novidade de 2011 foi a estreia do DRS, sigla em inglês para "sistema de redução de arrasto", uma exceção ao regulamento que diz que nenhum carro pode ter partes móveis que interfiram em sua aerodinâmica. Basicamente, em setores pré-determinados da pista, o piloto pode apertar um botão para abrir um buraco na asa traseira do carro, aumentando sua velocidade e facilitando ultrapassagens. O uso do DRS pode ser suspenso temporariamente durante a prova pela direção, como, por exemplo, durante uma bandeira amarela.

Nas pistas, o domínio da RBR seria absoluto: Vettel e Webber só não conseguiriam fazer uma das poles - o do GP da Coreia do Sul, que ficaria com Lewis Hamilton - e ganhariam 12 das 19 provas, 11 com Vettel e uma com Webber, ficando as outras vitórias com Button, Hamilton (três cada) e Alonso. O resultado desse massacre foi que Vettel conquistou seu campeonato nada menos que 122 pontos à frente de Button. A melhor posição em que Massa chegaria seria quinto (seis vezes), terminando o campeonato em sexto lugar; Barrichello teria como melhor posição dois nonos lugares, e terminaria em 17o. Ao final da temporada, Barrichello anunciaria sua despedida da Fórmula 1, e se transferiria para a Fórmula Indy.

Após o extenso domínio da RBR em 2011, a temporada de 2012 começaria com um alento, tendo sete vencedores diferentes nas sete primeiras provas do ano: Button, Alonso, Rosberg (primeira vitória da Mercedes desde 1955), Vettel, o venezuelano Pastor Maldonado, da Williams (primeira e única vitória da Venezuela na Fórmula 1), Webber e Hamilton. A partir do meio da temporada, porém, Vettel se recuperaria, conseguindo quatro vitórias seguidas na Ásia (Cingapura, Japão, Coreia do Sul e Índia) e garantindo seu tricampeonato, com apenas três pontos de vantagem sobre Alonso. Além dos sete vitoriosos no início, uma grande surpresa da temporada seria Räikkönen, que venceria o GP de Abu Dhabi após voltar do período sabático para correr pela Lotus, que retornava para a Fórmula 1, após ter deixado a categoria em 1995, comprando e renomeando a Renault. Massa finalmente voltaria ao pódio, com um terceiro lugar no GP do Brasil, e terminaria o campeonato em sétimo. Schumacher, decepcionado com seus maus resultados na Mercedes, anunciaria sua aposentadoria definitiva para o final da temporada; para seu lugar, em 2013, a equipe alemã contrataria Hamilton, o que seria considerado surpreendente, devido a seu longo passado em comum com a McLaren. Com a aposentadoria de Schumacher e a saída do piloto espanhol Pedro de la Rosa, 2013 seria o primeiro ano no qual nenhum piloto do grid estava na Fórmula 1 durante o século XX.

O calendário de 2012 contaria com 20 provas. O GP da Alemanha voltaria para Hockenheim, o GP do Bahrein voltaria ao calendário e o GP da Turquia sairia, mas a maior novidade seria a volta do GP dos Estados Unidos, realizado no moderníssimo Circuito das Américas, em Austin, Texas. Depois que o GP do Canadá de 2011, interrompido por uma forte tempestade e depois retomado, se tornou a corrida mais longa da história da Fórmula 1, com quatro horas e quatro minutos, a FIA decidiria criar uma regra que limita a duração máxima de qualquer prova a quatro horas de duração - usada em conjunto com a que já existia, de que uma prova que não seja interrompida e depois retomada (ou seja, que não tenha bandeira vermelha) deve durar, no máximo, duas horas.

A temporada de 2013 começaria com mais uma vitória de Räikkönen pela Lotus, no GP da Austrália. Até a metade da temporada, haveria uma certa disputa, com Alonso e Rosberg vencendo duas provas cada, e Vettel vencendo quatro; mas, depois do GP da Hungria, vencido por Hamilton, o domínio de Vettel seria total, com o alemão vencendo as nove últimas provas da temporada e conquistando seu quarto título com mais de 150 pontos de vantagem sobre Alonso - Massa, único brasileiro no grid, terminaria o campeonato em oitavo, com um terceiro lugar no GP da Espanha como melhor resultado. O calendário, aliás, teria apenas 19 provas, com a saída do GP da Europa; a única outra mudança seria a volta do GP da Alemanha para Nürburgring. Havia planos para a realização do GP da América em um circuito de rua em Nova Jérsei, mas, após os organizadores não conseguirem as permissões necessárias dos três níveis de governo, ele seria adiado para 2014, e, posteriormente, descartado sem nunca ter sido realizado.

2013 foi o último ano no qual as equipes usaram os motores V8 de 2,4 litros introduzidos em 2006; a partir do ano seguinte, seriam usados motores V6 de 1,6 litros com turbo - característica que havia sido banida da Fórmula 1 no final da temporada de 1988. O KERS, que passaria a se chamar apenas ERS, deixaria de ser um componente em separado e passaria a fazer parte do motor, captando energia não apenas das freadas, mas também do calor gerado pelo turbo. Essas duas mudanças fariam parte de um pacote que incluiria outros pequenos detalhes - limitação do fluxo de combustível, as equipes deveriam usar os mesmos pontos de marcha em todas as corridas, narizes mais baixos, freios eletrônicos nas rodas traseiras - que, segundo muitos, foram criados para tentar acabar com o domínio da RBR e deixar a vida de Vettel mais difícil. Outras mudanças para 2014 incluíam a diminuição do limite de velocidade nos boxes de 100 para 80 km/h, e a diminuição do máximo de motores que cada piloto pode usar na temporada de oito para cinco.

Uma mudança importante foi feita no sistema de punição: até 2013, quando um piloto recebia uma punição de 5 ou 10 segundos, deveria entrar no box, aguardar o tempo da punição e então sair, sem que nenhum mecânico pudesse mexer em seu carro - o que representava uma punição de bem mais que 5 ou 10 segundos, já que contava com o tempo da entrada e da saída dos boxes. A partir de 2014, caso um piloto recebesse uma punição, ele poderia "combiná-la" com sua parada nos boxes, sendo que, durante o tempo da punição, nenhum mecânico poderia mexer no carro - por exemplo, se um piloto recebe uma punição de 5 segundos, ele entra no box, fica parado sem que ninguém toque no carro por 5 segundos, e, após o fim desse tempo, os mecânicos podem realizar seus serviços, como troca de pneus e ajustes aerodinâmicos, normalmente. Caso a punição venha após o piloto ter feito seu último pit stop da corrida, ele também não precisará entrar nos boxes apenas para cumpri-la, com o tempo da punição sendo acrescentado ao seu tempo final da corrida - o que acabaria levando à curiosa situação na qual um piloto cruzava a linha de chegada em uma posição, mas, após ter seu tempo corrigido, na verdade terminava a corrida em outra.

Outra mudança para 2014 foi, digamos, estética: até então, a numeração dos carros era determinada pela posição das equipes no Mundial de Construtores, exceto o número 1, que era do campeão - assim, a equipe do campeão tinha os carros 1 e 2, e a partir daí, sem considerar a equipe do campeão, a primeira no Mundial de Construtores teria os carros 3 e 4, a segunda 5 e 6, e daí por diante. A partir de 2014, cada piloto pôde escolher seu "número preferido", qualquer número entre 2 e 99, com os pilotos escolhendo na ordem de sua classificação em 2013 (o primeiro a escolher foi Vettel, o segundo foi Alonso etc.). O número escolhido por cada piloto seria dele "para sempre", só passando a estar disponível para outro piloto após sua aposentadoria; o campeão corrente, se quisesse, poderia usar o número 1 (Vettel quis, Hamilton, quando foi campeão, não), com seu número escolhido ficando "guardado" para ele usar quando não fosse mais o campeão corrente. Como nos últimos tempos os números nos carros foram diminuindo cada vez mais, para fazer mais espaço para patrocínio, ao ponto de que ninguém conseguia mais vê-los, o regulamento também determinaria que o número escolhido por cada piloto deveria estar claramente visível na lateral e no bico do carro e no capacete do piloto.

2014 contaria com mudanças importantes no grid: Felipe Massa deixaria a Ferrari e se transferiria para a Williams; para seu lugar na equipe italiana retornaria Räikkönen, que, ao lado de Alonso, faria com que a Ferrari tivesse dois campeões mundiais pilotando na mesma temporada pela primeira vez desde 1954. Após 12 anos de Fórmula 1, sendo sete na RBR, Mark Webber decidiria se transferir para o Mundial de Endurance, sendo substituído na RBR por outro australiano, Daniel Ricciardo (se pronuncia "ricardo"), vindo da Toro Rosso. E a Williams contaria com a piloto de testes escocesa Susie Wolff, que, apesar de não participar de nenhuma corrida, se tornaria a primeira mulher a pilotar um carro de Fórmula 1 desde a italiana Giovanna Amati em 1992. Infelizmente, a temporada de 2014 também contaria com a primeira fatalidade desde a morte de Ayrton Senna vinte anos antes: no GP do Japão, o piloto francês Jules Bianchi, 25 anos, da Marussia, sairia da pista e colidiria com um trator que estava retirando o carro do alemão Adrian Sutil, da Sauber, que havia saído no mesmo ponto algum tempo antes. Bianchi seria transferido para o hospital em coma, e faleceria nove meses depois, em julho de 2015. Novas normas seriam editadas pela FIA para a presença de tratores na pista após o acidente.

Após o acidente de Bianchi, a FIA também testaria uma nova forma de reduzir a velocidade dos pilotos após um acidente, que passaria a valer a partir da temporada de 2015. Chamada "Carro de Segurança Virtual" (VSC, da sigla em inglês), a medida estabelecia que todos os pilotos deveriam reduzir sua velocidade em 35% e estavam proibidos de realizar ultrapassagens, mas apenas no trecho da pista onde o VSC estivesse sinalizado - o VSC, portanto, era um "estágio intermediário" entre a bandeira amarela no setor e a entrada do Carro de Segurança na pista. O VSC seria inspirado no slow zone, procedimento semelhante adotado quando há um acidente nas 24 Horas de Le Mans, e usaria uma tecnologia semelhante à do electro-pacer, usado nas 500 Milhas de Indianápolis entre 1972 e 1978, através do qual um componente no carro limita eletronicamente sua velocidade na zona de VSC, sem que o piloto precise reduzi-la manualmente.

O calendário de 2014 contaria ainda com 19 provas, mas com duas mudanças importantes: os GPs da Coreia do Sul e da Índia seriam retirados, substituídos pelo GP da Rússia, em Sochi, realizado em um autódromo construído junto com o Parque Olímpico das Olimpíadas de Inverno de 2014, cuja pista circundava as principais instalações esportivas do local, e pelo GP da Áustria, em Spielberg, no mesmo circuito no qual a prova foi disputada entre 1997 e 2003, quando deixou a categoria, mas que fora adquirido pela Red Bull e renomeado para Red Bull Ring - a volta desse circuito ao calendário, inclusive, mostrava, segundo muitos, a força que a Red Bull teria junto à FIA. Outras novidades foram o retorno do GP da Alemanha para Hockenheim, seguindo o rodízio, e a realização do GP do Bahrein à noite, nos moldes do GP de Cingapura.

Tendo a Red Bull força junto à FIA ou não, o "pacote anti-Vettel" pareceu ter dado certo, pois a temporada de 2014 viu um domínio total da Mercedes, que venceu 16 das 19 provas - as outras três seriam vencidas pela RBR, mas não por Vettel, e sim por Ricciardo. Hamilton conquistaria seu segundo título, o primeiro da equipe alemã desde 1955, com 11 vitórias, 67 pontos à frente de seu companheiro Rosberg, que venceria as outras cinco provas. Massa conseguiria uma pole position no GP da Áustria e dois terceiros lugares, na Itália e no Brasil, terminando o campeonato em sétimo.

A temporada de 2015 começaria com dois anúncios bombásticos. Primeiro, após sete anos da ausência, os motores Honda estariam de volta à Fórmula 1, equipando a McLaren, que encerraria seu contrato com a Mercedes, voltando a usar os motores japoneses após 23 anos. Segundo, Vettel trocaria a RBR pela Ferrari, para tentar trazer para a equipe italiana um título que não vinha desde o de Räikkönen em 2007. Vettel seria colega de equipe do próprio Räikkönen, ocupando o lugar de Alonso, que retornaria à McLaren, de onde havia saído justamente em 2007. O grid de 2015 também contaria com um novo piloto brasileiro, Felipe Nasr (o que deixaria o país com a curiosa dupla Felipe Massa e Felipe Nasr), que correria pela Sauber; Nasr disputaria as temporadas de 2015 e 2016, tendo como melhor resultado um quinto lugar justamente em sua corrida de estreia, na Austrália. Massa, em seu segundo ano pela Williams, conseguiria dois terceiros lugares, na Áustria e na Itália, e terminaria o campeonato em sexto.

A Ferrari ganharia força com Vettel, mas a temporada veria mais um amplo domínio da Mercedes, com os pilotos da equipe alemã mais uma vez ganhando 16 das 19 provas da temporada - as outras três seriam vencidas por Vettel. Hamilton ganharia 10 provas, lideraria o campeonato do início ao fim, e conquistaria seu terceiro título com três rodadas de antecedência, nos Estados Unidos; Rosberg vencerias as outras seis provas, e terminaria com o vice-campeonato. O calendário de 2015 só teria uma modificação em relação a 2014: sem conseguir um acordo para definir em qual autódromo ele seria disputado, o GP da Alemanha ficaria de fora pela primeira vez desde 1960; em seu lugar, entraria o GP do México, disputado pela última vez em 1992, no mesmo autódromo Hermanos Rodríguez, na Cidade do México, em que sempre foi disputado, mas em uma pista totalmente reformulada, que incluía uma interessante seção apelidada de "estádio", na qual os carros passam por um espaço no meio de duas arquibancadas - originalmente pertencentes a um estádio de beisebol que havia sido construído dentro do autódromo na década de 1990.

Uma das mudanças mais controversas no regulamento para 2016 não dizia respeito aos carros, e sim aos capacetes dos pilotos. Tradicionalmente, cada piloto escolhia uma pintura para seu capacete no início da carreira, ou quando chegava à Fórmula 1, e a mantinha até sua aposentadoria, se tornando reconhecido e facilmente identificável por seu capacete. Muitos dos grandes campeões do passado, como Graham Hill, Jackie Stewart e James Hunt, transformariam seus capacetes em verdadeiras marcas - assim como Ayrton Senna, cujo capacete amarelo com uma listra verde e outra azul é hoje um símbolo mundialmente conhecido. Por mais tradicional que isso fosse, entretanto, não havia nada no regulamento que dissesse que cada piloto deveria manter a mesma pintura em seu capacete em todas as provas, e eram comuns os exemplos de pilotos que, querendo homenagear outros pilotos, abraçar causas humanitárias, ou sinalizar uma mudança na carreira, decidiriam mudar a pintura de seu capacete durante uma ou mais provas - Rubens Barrichello homenagearia Senna no GP do Brasil de 1995, usando um capacete com uma pintura que parecia que o de Senna estava sob o seu; Gerhard Berger, no mesmo ano, usaria um capacete decorado com bandeiras de vários países e a inscrição no more war ("chega de guerras"), para chamar atenção sobre os vários conflitos que ocorriam no planeta; e Michael Schumacher, ao se transferir da Benetton para a Ferrari, passaria a usar um capacete majoritariamente vermelho, no mesmo tom do carro, ao invés do majoritariamente branco que usava até então.

Acontece que, desde o final da década de 2000, alguns pilotos, principalmente os mais jovens, passariam a, digamos, abusar das trocas de capacete - Sebastian Vettel, por exemplo, entre sua estreia na categoria em 2007 e o final da temporada de 2015, tinha usado mais de 60 pinturas diferentes, por vários motivos, dentre eles escolher uma pintura diferente toda vez que conquistava uma vitória. Na avaliação da FIA, isso prejudicava não só a identificação dos pilotos por parte do público, mas também a construção de sua identidade - os fãs de Schumacher poderiam usar seu capacete como símbolo, os de Vettel, não, por exemplo. Diante disso, para a temporada de 2016, a FIA determinaria que cada piloto deveria usar a mesma pintura no capacete do início ao fim, sendo permitidas apenas pequenas mudanças como troca de patrocínios ou nos tons das cores usadas.

Essa determinação pegaria os pilotos de surpresa, e causaria mais estardalhaço do que imaginado. Alguns se revoltariam contra o que consideraram intromissão indevida (Alexander Wurz, por exemplo, questionou se para o ano seguinte a FIA determinaria como deveriam ser os cortes de cabelo dos pilotos), mas outros usaram de argumentos bem mais sólidos, como o de que a medida representava o fim dos capacetes usados em homenagens - Button, por exemplo, havia usado um capacete todo cor de rosa no GP da Inglaterra de 2014 em homenagem a seu pai, que sempre usava uma "camisa rosa da sorte" ao assistir suas corridas, e falecera mais cedo aquele ano, e como parte de uma campanha de arrecadação de fundos para uma ONG que ajudava pessoas que ficaram incapacitadas após acidentes de trânsito. Após muita deliberação, a FIA publicaria o texto que está valendo desde então: no início de cada temporada, cada piloto deve escolher a pintura que usará em seu capacete durante toda aquela temporada, que pode ser idêntica ou não a alguma que ele já tenha usado anteriormente; mas, para uma das provas da temporada, e apenas uma, ele poderá optar por usar uma pintura diferente, devendo retornar para a "pintura da temporada" na prova seguinte.

A temporada de 2016 teria o recorde de maior número de provas, com 21 no calendário; além de todas as provas de 2015, retornariam o GP da Alemanha, em Hockenheim, e o GP da Europa, realizado em um circuito de rua em Baku, capital do Azerbaijão. No grid, a Lotus voltaria a se chamar Renault e a ser controlada pela montadora francesa, mas a maior novidade seria a estreia da equipe Haas, de propriedade de Gene Haas, que também é dono de uma das equipes da Nascar; a Haas seria a segunda equipe sediada nos Estados Unidos a competir na Fórmula 1, com a primeira tendo sido outra Haas, em 1986, de propriedade Carl Haas, que era o parceiro de Paul Newman na equipe de Fórmula Indy Newman/Haas - a coincidência dos nomes, aliás, levaria muitas agências a noticiar, erroneamente, que Carl Haas estava voltando à Fórmula 1, ou que Gene Haas era o parceiro de Newman na Newman/Haas. A parte mais interessante é que os nomes são coincidência mesmo, já que Gene e Carl - que faleceria em 29 de junho de 2016 - não têm qualquer parentesco entre si.

2016 veria mais uma vez um amplo domínio da Mercedes, que só não ganharia duas das provas da temporada, ambas vencidas pela Red Bull - o GP da Malásia por Ricciardo e o GP da Espanha pelo holandês Max Verstappen, considerado uma das maiores revelações dos últimos tempos mas frequentemente criticado por se envolver em acidentes causados por afobação ou irresponsabilidade; filho do ex-piloto Jos Verstappen, Max, que seria o primeiro holandês a obter uma vitória na Fórmula 1, havia estreado em 2015 pela Toro Rosso e começado a temporada de 2016 pela mesma equipe, mas, justamente antes do GP da Espanha, quinta prova da temporada, a Red Bull, que controla ambas as equipes, decidiria trocá-lo de lugar com o russo Daniil Kvyat, que começou a temporada como colega de Ricciardo, mas, na avaliação dos executivos da empresa de bebidas austríaca, não estava rendendo o esperado. Das 19 provas restantes, Hamilton ganharia dez e Rosberg nove; os dois brigariam pelo título até a última prova da temporada, quando Rosberg, graças a seus demais resultados, se sagraria campeão, se tornando o segundo filho de um campeão a também conquistar o título (depois de Damon Hill, que foi campeão em 1996, filho de Graham Hill, bicampeão em 1962 e 1968). Logo após seu título, Rosberg surpreenderia a todos e anunciaria sua aposentadoria, declarando estar cansado do ambiente competitivo do automobilismo e desejoso de participar de outros projetos. Massa, em mais uma temporada pela Williams, terminaria o campeonato em 11o lugar, sem nenhum pódio.

A maior novidade de 2017 seria a compra dos direitos sobre o Campeonato Mundial de Fórmula 1 por parte do grupo norte-americano Liberty Media, o que ocasionou a saída de Bernie Ecclestone, que mandava e desmandava na categoria desde a década de 1970. Com um método de gestão bem ao estilo dos esportes norte-americanos, a Liberty Media liberou que as equipes divulgassem imagens de bastidores em suas redes sociais - até então, todas as imagens feitas durante um fim de semana de prova eram automaticamente propriedade da FOM, a empresa comandada por Ecclestone - e implementou ações como entrevistas dos pilotos ainda na pista após o treino de classificação, uma sequência de abertura na qual os pilotos, seus nomes e suas nacionalidades eram mostrados em destaque antes de cada prova, e votações online para que os espectadores escolhessem qual foi o destaque de cada corrida. A Liberty Media pretende implementar cada vez mais ações para que a Fórmula 1 seja vista como um grande espetáculo, e seu objetivo a longo prazo é transformar o campeonato em uma espécie de liga, nos moldes da NFL ou da MLB, com as equipes podendo comprar participação e se tornando as verdadeiras donas do campeonato, ao invés de apenas participantes inscritos.

O calendário teria 20 provas, com a saída, mais uma vez, do GP da Alemanha; a corrida em Baku seria mantida, mas passaria a se chamar GP do Azerbaijão. O ano começaria com uma vitória de Vettel, que, assim como Hamilton, ganharia quatro das onze primeiras provas, passando a impressão de que o título seria finalmente disputado palmo a palmo pelos dois; a partir do GP da Bélgica, entretanto, Hamilton dispararia na liderança e conquistaria mais cinco vitórias, para um total de nove, contra apenas mais uma de Vettel, para um total de cinco, se sagrando pela quarta vez campeão com quase 50 pontos a mais que o alemão. A Red Bull conseguiria três vitórias, duas com Verstappen e uma com Ricciardo; as três provas restantes seriam conquistadas pelo finlandês Valtteri Bottas, que assumiria o lugar de Rosberg na Mercedes. Massa chegaria a anunciar sua aposentadoria no final da temporada de 2016, mas, após a saída de Bottas, que foi seu companheiro de equipe nos três anos anteriores, a Williams o convenceria a correr mais um ano, principalmente porque seu outro piloto contratado, o canadense Lance Stroll, era muito jovem e inexperiente, e praticamente só conseguiu a vaga devido a um gordo patrocínio trazido para a equipe por seu pai, o empresário Lawrence Stroll. Único brasileiro no grid, Massa terminaria o campeonato mais uma vez em 11o lugar sem pódios, e realmente se aposentaria no final do ano, o que faria com que 2018 fosse o primeiro ano sem um piloto brasileiro na Fórmula 1 desde 1969.

O calendário de 2018 teria mais uma vez 21 provas, sendo a maior novidade a volta do GP da França, em Paul Ricard; uma corrida de Fórmula 1 não era disputada na França desde 2008, e em Paul Ricard desde 1990. O GP da Alemanha, em Hockenheim, também retornaria, e o GP da Malásia seria descontinuado. Mais uma vez, o ano parecia ter começado bem para a Ferrari, com duas vitórias de Vettel nas duas primeiras provas; nas 13 primeiras, tanto Vettel quanto Hamilton venceriam cinco cada - mas poderia ter sido 6 a 4 para o alemão se ele não tivesse cometido um erro justamente no GP da Alemanha, no qual saiu da pista sozinho e teve de abandonar, com Hamilton ficando com a vitória. Assim como em 2017, porém, a partir da 14a prova, o GP da Itália, só deu Hamilton, que conquistou mais seis vitórias contra nenhuma de Vettel - incluindo uma controversa vitória no GP da Rùssia, no qual Bottas, que liderava, recebeu ordem da equipe para deixar Hamilton passar - e, com um total de 11, garantiu seu quinto título mais de 80 pontos à frente do ferrarista. A Red Bull conseguiria quatro vitórias, duas com Verstappen e duas com Ricciardo, e o GP dos Estados Unidos teria uma vitória de Räikkönen, sua primeira desde 2013.

A principal mudança no regulamento de 2018 seria um item que buscava trazer mais segurança aos pilotos, conhecido como Halo ("auréola" em inglês). Feito de titânio, o Halo é uma peça que se prende em três pontos do cockpit ao redor da cabeça do piloto; ele é fabricado não pelas próprias equipes, mas por empresas credenciadas pela FIA, com as equipes fazendo apenas sua instalação. O desenho final do Halo foi obtido após um estudo que analisou 17 acidentes fatais ocorridos nos últimos dez anos em diversas categorias, incluindo as mortes de Jules Bianchi e de Dan Wheldon; o estudo mostrou que, caso esses carros já contassem com o Halo, os pilotos ainda poderiam sofrer fraturas e escoriações, mas sua chance de sobrevivência aumentaria consideravelmente. O Halo estreou na Fórmula 1 em 2018, mas será obrigatório em todas as categorias de monopostos reguladas pela FIA até o final de 2020.

2019 traria uma mudança de regulamento há muito pedida pelos fãs, mas que teria apenas um efeito estético: em 2007, a FIA havia determinado que cada piloto seria obrigado a usar dois tipos de pneus diferentes durante cada prova, exceto se chovesse e o uso dos pneus de chuva se tornasse necessário. Inicialmente, estariam disponíveis às equipes dois tipos de pneus, apelidados de "duro" e "macio", mas, em 2011, seriam introduzidos também os pneus "médios". A partir de então, a Pirelli passaria a produzir vários tipos de pneus diferentes, com vários graus de dureza e de durabilidade; a cada corrida, a Pirelli escolhia três que poderiam ser escolhidos pelas equipes, que só eram obrigadas a usar dois deles. Acontece que os pneus da Pirelli eram identificados por um código de cores, sendo marcados com uma faixa colorida em sua lateral; os pneus de chuva fraca, por exemplo, eram identificados pela cor verde, e os de chuva forte, pela cor azul. Além disso, cada pneu tinha um "nome oficial" usado pela Pirelli; em 2018, nada menos que sete pneus para pista seca eram produzidos, conhecidos como ultra macio (com uma faixa de cor rosa), hiper macio (roxa), super macio (vermelha), macio (amarela) médio (branca), duro (azul claro) e super duro (laranja). Esses nomes causavam confusão nos espectadores, que pediam para que eles voltassem a ser conhecidos apenas como macio, médio e duro, já que, de qualquer forma, somente três opções estariam disponíveis a cada corrida. Foi exatamente isso que a FIA determinou para 2019: sem contar os dois pneus de chuva, que continuam os mesmos, agora a Pirelli produz cinco compostos diferentes, conhecidos como de C1 a C5, com o C1 sendo o mais duro e o C5 o mais macio; para cada prova, três deles seriam escolhidos, com o mais macio dos três sendo conhecido como "macio" e tendo uma faixa vermelha, o mais duro sendo conhecido como "duro" e tendo uma faixa branca, e o outro sendo conhecido como "médio" e tendo uma faixa amarela - o C1, portanto, só pode ter a faixa branca, e o C5 só pode ter a faixa vermelha, mas o C3 pode ter qualquer uma das três faixas, dependendo de quais serão as outras duas opções.

No meio da temporada de 2018, a Force India teria sérios problemas financeiros, e acabaria comprada por Lawrence Stroll, que mudaria o nome da equipe para Racing Point. Evidentemente, Lance Stroll passaria a ser piloto da Racing Point em 2019; para seu lugar, a Williams surpreenderia e traria de volta Kubica, 34 anos, sem pilotar desde 2010. O carro não era bom e Kubica não conseguiu nenhum resultado expressivo, anunciando sua saída da Fórmula 1 no final do ano; ele ainda não se aposentou do automobilismo, porém, entrando em negociações para participar do Mundial de Endurance a partir de 2020. O colega de Kubica na Williams seria uma revelação do automobilismo inglês, o campeão da Fórmula 2 George Russell; outra revelação inglesa, Lando Norris, faria sua estreia pela McLaren no lugar de Fernando Alonso, que decidiria deixar a Fórmula 1 no final de 2018.

Ainda em 2019, a Sauber, que havia feito uma parceria com a Alfa Romeo no ano anterior, seria comprada pela marca italiana, que retornaria à Fórmula 1, com o nome de Alfa Romeo Racing; a equipe, entretanto, continuaria sediada na suíça, usando a fábrica de carros da Sauber e motores Ferrari - a última vez que a Alfa Romeo havia participado como uma equipe própria foi em 1951, e a última vez em que motores Alfa Romeo equiparam um carro de Fórmula 1 foi em 1985, na equipe Benetton. Em uma troca de pilotos considerada por muitos como surpreendente, Räikkönen saiu da Ferrai e foi para a Alfa Romeo, e, para seu lugar, a Ferrari contrataria Charles Leclerc, jovem piloto nascido em Mônaco que estreou em 2018 pela Sauber, considerado uma das maiores revelações da Fórmula 1 nos últimos anos. Outra grande revelação da temporada seria Alexander Albon, segundo piloto tailandês a correr na Fórmula 1, que começaria o ano na Toro Rosso ao lado de Kvyat, substituindo o francês Pierre Gasly, que foi ser colega de Vestappen na Red Bull após Ricciardo decidir se transferir para a Renault; no GP da Bélgica, 13a prova da temporada, entretanto, a Red Bull promoveria mais um troca-troca, com Albon indo para a equipe principal e Gasly sendo "demovido" para a Toro Rosso. O tailandês se sairia muito bem na nova equipe, e terminaria o ano na sexta colocação do campeonato, conseguindo um quarto lugar no GP do Japão.

O calendário de 2019 teria as mesmas 21 provas de 2018. Poucos dias antes do início da temporada, Charles Whiting, diretor de provas da Fórmula 1 desde 1988, teria uma embolia pulmonar e faleceria, o que causaria grande consternação. Pela primeira vez desde 1959, o regulamento da categoria previa pontos de bônus para os pilotos, no caso, um ponto para o piloto que fizesse a volta mais rápida, desde que ele terminasse a corrida dentre os dez primeiros. A temporada veria mais um grande domínio da Mercedes, que venceria as oito primeiras provas e deixaria claro que apenas Hamilton e Bottas teriam condições de disputar o título. No fim, Bottas teria quatro vitórias e Hamilton onze, conquistando seu sexto título 87 pontos à frente do companheiro de equipe. Leclerc, primeiro monegasco a vencer na Fórmula 1, conseguiria duas vitórias, Verstappen teria três, e Vettel teria apenas uma, no GP de Cingapura, mas poderiam ter sido duas, já que, no GP do Canadá, ele cruzaria a linha de chegada em primeiro, mas teria 5 segundos adicionados a seu tempo por conta de uma controversa manobra que foi considerada irregular durante uma ultrapassagem, ficando a vitória com Hamilton.

Bem, é isso, fechamos a década na qual apenas três pilotos, de duas nacionalidades, correndo por duas equipes, conquistaram títulos, algo nunca antes visto na categoria. Acho que o próximo post dessa série só será publicado em 2029, quando eu poderei falar de mais uma década de Fórmula 1. Até lá!

Série Fórmula 1

2010-2019

Ler mais

sábado, 28 de outubro de 2006

Escrito por em 28.10.06 com 0 comentários

Fórmula 1 (VI)

E hoje é o dia da última parte do post sobre a Fórmula 1!

2000-2009
Atualizado em 25 de fevereiro de 2010


A década de 80 foi dominada pela McLaren, que, entre 1984 e 1991, ganhou sete títulos, perdendo somente o de 1987 para a Williams. Que por sua vez foi o time dominante na década de 90, com um carro invencível em 1992 e 1993, e ganhando o título também em 1996 e 1997. A partir de 2000, foi a vez da Ferrari dominar a Fórmula 1, graças, principalmente, a um cidadão de nome Michael Schumacher.

Rubens BarrichelloO último título da equipe vermelha de Maranello tinha sido em 1979, com o sul-africano Jody Scheckter. Depois disso, bons pilotos e engenheiros se revezaram no time, mas nenhum deles conseguiu levantar o caneco. Disposta a reverter este quadro, em 1996 a Ferrari contratou Schumacher, então o atual bicampeão e já considerado o melhor piloto em atividade, e decidiu não medir esforços para dar a ele mais um título. Junto com Schumacher, foram para a Ferrari o diretor Jean Todt, o estrategista Ross Brawn e o projetista Rory Byrne, todos dentre os melhores em suas funções. Toda esta estrutura levou quatro anos para chegar ao ponto certo: em 2000, a Ferrari voltaria a ganhar um campeonato.

Os maiores rivais do alemão foram os carros da McLaren, pilotados pelo então bicampeão, o finlandês Mika Häkkinen, e pelo escocês David Coulthard. Tivesse a equipe se concentrado em apenas um deles, talvez tivesse chegado ao título, mas um piloto acabou tirando muitos pontos do outro, e as sete vitórias da McLaren foram quatro para Häkkinen e três para Coulthard. Schumacher, por outro lado, fez uma temporada quase impecável, subindo ao lugar mais alto do pódio nove vezes, o que lhe garantiu seu tricampeonato 19 pontos a frente de Häkkinen, mesmo tendo abandonado quatro provas. Para o lugar de Irvine, que deixou a equipe após entender que teria sido atrapalhado em 1999 para não ser campeão antes de Schumacher, a Ferrari contratou o brasileiro Rubens Barrichello, que se tornou o quinto brasileiro a vencer uma corrida, ganhando de forma espetacular o GP da Alemanha, onde largou da última posição. Barrichello ainda consegui quatro segundos lugares, quatro terceiros lugares, e três quartos lugares, abandonando as outras quatro provas. Um outro brasileiro, Luciano Burti, fez sua estréia em 2000, correndo o GP da Áustria pela equipe Jaguar curiosamente no lugar de Irvine, que estava contundido. Burti ainda correu as quatro primeiras provas de 2001 pela mesma Jaguar, se transferindo depois para a nova equipe Prost, surgida após o tricampeão Alain Prost comprar o que restava da Ligier, onde correu mais dez provas. Seus melhores resultados foram dois oitavos lugares, nos GPs da Austrália e do Canadá.

Em relação ao ano anterior, o calendário de 2000 ganhou uma prova a mais, para um total de 17: Austrália em Melbourne, Brasil em Interlagos, San Marino em Ímola, Inglaterra em Silverstone, Espanha em Montmeló, Europa em Nürburgring, Mônaco em Monte Carlo, Canadá em Montreal, França em Magny-Cours, Áustria em Spielberg, Alemanha em Hockenheim, Hungria em Hungaroring, Bélgica em Spa-Francorchamps, Itália em Monza, Estados Unidos em Indianápolis, Japão em Suzuka e Malásia em Sepang. A nova corrida, o GP dos Estados Unidos, não era as 500 Milhas de Indianápolis, como nos primórdios da Fórmula 1, mas sim uma corrida totalmente nova, em um circuito misto construído dentro do oval, que aproveitava uma curva e uma reta deste.

Este calendário, pela primeira vez na história da categoria, foi o mesmo utilizado no ano seguinte, com a única mudança sendo a data do GP da Malásia. Assim como o calendário, o domínio da Ferrari também continuou o mesmo - aliás, até se intensificou. Schumacher mais uma vez venceu nove provas, mas as demais foram divididas entre Häkkinen e Coulthard, com duas cada, e os dois pilotos da Williams, impulsionada por um poderoso motor BMW, o colombiano Juan Pablo Montoya, que venceu o GP da Itália, e o alemão Ralf Schumacher, irmão de Michael, que venceu outras três provas. Schumacher conseguiu seu quarto título com uma vantagem de 58 pontos sobre Coulthard. Barrichello terminou o campeonato na terceira colocação, chegando em segundo lugar cinco vezes, e em terceiro mais cinco. E mais um brasileiro fez sua estréia em 2001, Enrique Bernoldi, que correu este ano e o seguinte pela Arrows. A precariedade da equipe fez com que ele abandonasse a maioria das provas, e tivesse como melhor resulatado o oitavo lugar no GP da Alemanha de 2001.

A temporada de 2002 foi o maior banho da história da Fórmula 1. Schumacher venceu 11 das 17 provas, e Barrichello ganhou mais quatro - as duas provas restantes ficaram uma com Ralf e uma com Coulthard. O alemão se igualou ao argentino Juan Manuel Fangio como pentacampeão da categoria, com quase o dobro dos pontos do brasileiro, que terminou em segundo lugar. Schumacher ainda garantiu o título com seis corridas de vantagem, o que, aliado ao imenso domínio da Ferrari, fez com que a audiência das provas a partir da metade do campeonato caísse, preocupando a FIA, já que o esporte se tornava cada vez mais caro, e precisava de um bom retorno. Apesar de um domínio tão amplo, a Ferrari se utilizou de uma manobra nada desportiva, ao ordenar pelo rádio que Barrichello deixasse Schumacher passar na última volta do GP da Áustria, para que o alemão ganhasse a corrida. A manobra foi criticada no mundo inteiro, rendeu uma multa de um milhão de dólares para a Ferrari, e gerou uma mudança no regulamento, segundo a qual toda a comunicação entre os boxes e os carros deveria ser aberta para quem quisesse ouvir, e ordens para que os pilotos trocassem de posição de propósito seriam proibidas. O calendário foi mais uma vez o mesmo, e mais um brasileiro estreou, Felipe Massa, que, correndo pela Sauber, conseguiu um quinto e dois sextos lugares.

Com um domínio tão amplo em 2002, era de se esperar que em 2003 a Ferrari desse um novo passeio. Curiosamente, a temporada foi a mais disputada em anos, com oito pilotos diferentes ganhando corridas, e pelo menos três deles chegando à última prova com chances matemáticas de ganhar o campeonato: Schumacher, Montoya, e o finlandês Kimi Räikkönen, que substituíra seu compatriota Häkkinen na McLaren no ano anterior. Schumacher conseguiu seu sexto título apenas dois pontos à frente de Räikkönen, graças a um oitavo lugar na última prova, o GP do Japão, vencido por Rubens Barrichello, que também venceu o GP da Inglaterra, e terminou o campeonato na quarta posição. A temporada de 2003 também teve como destaques uma alteração na pontuação, onde os oito primeiros receberiam pontos ao invés dos seis primeiros como até então; a vitória do espanhol Fernando Alonso, o piloto mais jovem a vencer na categoria, no GP da Hungria, correndo pela equipe Renault, que comprara a Benetton no ano anterior; e a redução do calendário para 16 provas, após a retirada do GP da Bélgica. 2003 também foi o ano de estréia de mais dois pilotos brasileiros: Antônio Pizzonia, que correu as oito primeiras provas pela Jaguar, quatro provas de 2004 e quatro provas de 2005 pela Williams, tendo como melhor resultado quatro sétimos lugares; e Cristiano da Matta, que correu as temporadas de 2003 e 2004 pela Toyota, e teve como melhor resultado três sextos lugares.

Após uma temporada emocionante e disputada, 2004 foi mais uma vez um passeio da Ferrari. Schumacher venceu 12 das 13 primeiras provas - a exceção foi o GP de Mônaco, onde conseguiu bater dentro do túnel, em bandeira amarela e atrás do safety car - e mais o GP do Japão, conseguindo um impressionante sétimo título sem grandes complicações. Barrichello terminou em segundo, ganhando duas provas. Massa, que após um ano como piloto de testes da Ferrari voltou a correr pela Sauber, teve como melhor resultado um quarto lugar no GP da Bélgica. As outras três corridas foram vencidas uma por Räikkönen, uma por Montoya, e uma pelo italiano Jarno Trulli, da Renault. McLaren e Williams foram verdadeiras decepções, começando a temporada com carros fracos e pouco competitivos, e abrindo espaço para a Renault e para a BAR, pilotada pelo inglês Jenson Button e pelo japonês Takuma Sato, e que terminou em segundo no mundial de construtores. O calendário viu a saída do GP da Áustria para a volta do da Bélgica, e aumentou para 18 provas com a estréia de duas corridas na Ásia, o GP do Bahrein em Sakhir e o GP da China em Xangai.

Como sempre acontece quando uma equipe é muito superior às demais, a FIA providenciou mudanças no regulamento para 2005 - atrasadas para alguns, muito radicais para outros. Pra começar, cada motor deveria ser usado em duas corridas seguidas, com o piloto que trocasse de motor sendo penalizado com a perda de 10 posições no grid de largada. Além disso, se tornou proibido trocar pneus durante a corrida, a não ser que o pneu furasse ou estivesse deteriorado a ponto de representar risco à integridade do piloto. Graças a esta nova regra, as equipes que usavam pneus Michelin obtiveram uma vantagem sobre a Ferrari, que usava pneus Bridgestone, pois os Michelin tinham uma menor perda de performance conforme se deterioravam. A regra também acabou causando um episódio bizarro: durante os treinos para o GP dos Estados Unidos, a Michelin chegou à conclusão de que os pneus que levara não ofereciam segurança aos pilotos, podendo causar acidentes na curva de maior velocidade do circuito. A Michelin tentou uma autorização da FIA para trazer novos pneus da França, mas o rígido regulamento determinava que os pneus usados na corrida deveriam ser os mesmos usados no treino. Bernie Ecclestone ainda tentou uma solução política, dizendo que faria uma chicane para diminuir a velocidade na curva se todas as equipes concordassem, mas a Ferrari foi contra, alegando que teve problemas por "usar pneus inadequados" em várias corridas até ali, e nem por isso tinha pedido modificações nas pistas. Sem saída, as equipes que usavam Michelin deram a volta de apresentação, e depois foram para os boxes, abandonando voluntariamente a corrida, que ficou com apenas os seis carros que usavam Bridgestone, das equipes Ferrari, Jordan e Minardi. Se os pneus Michelin realmente ofereciam riscos aos pilotos ou se a empresa cometeu um equívoco e ficou com medo de perder na pista, jamais saberemos, mas o fato é que o GP dos EUA até correu o risco de sair do calendário por insatisfação do público - o que, felizmente, não aconteceu.

Nas primeiras corridas do ano, o carro de melhor desempenho era o Renault, que venceu a primeira corrida com o italiano Giancarlo Fisichella, e as três seguintes com Alonso, que venceria um total de sete. A partir do GP da Espanha, a McLaren deu um salto de qualidade, vencendo outras sete corridas com Räikkönen e mais três com Montoya, que havia trocado a Williams pela equipe de Ron Dennis. O desempenho ruim de Räikkönen nas primeiras provas, porém, acabou favorecendo Alonso, que se tornou o primeiro espanhol campeão da Fórmula 1, e também o campeão mais jovem da história, quebrando o recorde que era de Emerson Fittipaldi. Schumacher, brigando com os pneus, ainda conseguiu terminar o campeonato na terceira posição, mas 50 pontos atrás de Räikkönen. O alemão, aliás, foi o vencedor do bizarro GP dos EUA. Barrichello também não fez uma boa temporada, mas conseguiu dois segundos lugares e dois terceiros, terminando na oitava posição. Massa conseguiu mais um quarto lugar, desta vez no GP do Canadá. E o calendário chegou a 19 provas, com a inclusão do GP da Turquia, em Istanbul. Um fato curioso de 2005 foi a estréia da equipe Red Bull, de propriedade do dono da fábrica de bebidas energéticas de mesmo nome, que comprou a Jaguar.

Para 2006, o calendário voltou a 18 provas, com a impossibilidade de se realizar o GP da Bélgica devido a obras no circuito. As equipes voltariam a poder trocar pneus durante a corrida, mas a regra dos motores continuava. A categoria se via cada vez mais dominada por montadoras de automóveis, com a BMW comprando a Sauber e a Honda adquirindo a BAR. Curiosamente, a Red Bull passou a controlar duas equipes, ao comprar a Minardi e renomeá-la Toro Rosso ("touro vermelho" em italiano, o mesmo significado de Red Bull em inglês). O mesmo, de certa forma, ocorreu com a Honda, que bancou a Super Aguri, uma equipe 100% japonesa sob o comando do ex-piloto Aguri Suzuki, mas que pouco conseguiu além das últimas posições. Após seis anos na Ferrari, Barrichello decidiu aceitar um convite do ex-piloto brasileiro de Fórmula Indy Gil de Ferran, atual diretor esportivo da Honda, e se transferiu para a equipe japonesa, para ser companheiro de Jenson Button. Isto permitiu que Massa assumisse seu lugar na Ferrari, ao lado de Schumacher.

No início, todos esperavam uma nova disputa entre Räikkönen e Alonso, mas a McLaren começou o ano mais uma vez com um carro muito ruim, permitindo que o espanhol abrisse uma boa vantagem. Para o bem do campeonato, a Ferrari renasceu das cinzas, e Schumacher também começou a vencer corridas, tendo uma possibilidade real de chegar ao seu oitavo título. Após o GP da Itália, o alemão anunciou que iria encerrar a carreira ao final da temporada, e que desejava fazer isso como octocampeão. Um estouro de motor na penúltima prova acabou dificultando as coisas para Schumacher, e Alonso se sagrou bicampeão no GP do Brasil. Cada um dos pilotos teve sete vitórias, mas Alonso fez uma temporada impecável, com mais sete segundos lugares, dois quintos lugares, e abandonando nas outras duas provas. Massa se tornou o sexto brasileiro a vencer uma corrida na Fórmula 1, ganhando o GP da Turquia e repetindo a dose no GP do Brasil, que não era vencido por um brasileiro desde Ayrton Senna em 1993. As outras duas corridas foram vencidas uma por Fisichella e uma por Button, na primeira vitória da Honda como equipe na Fórmula 1. Barrichello conseguiu dois quartos lugares, terminando o campeonato uma posição atrás de seu companheiro de equipe.

Com o fim da temporada de 2006, chegou ao fim a era Schumacher. O alemão se despediu da Fórmula 1 como dono de 24 recordes, sendo os mais expressivos o maior número de títulos (7 contra 5 de Fangio), o maior número de vitórias (91 contra 51 de Prost) e o maior número de pole positions (68 contra 65 de Senna). Tivesse corrido mais uma temporada, Schumacher ainda quebraria o recorde de maior número de GPs disputados (250 contra 256 de Patrese). Tirando os recordes que envolvem idade ("piloto mais jovem a vencer um GP", por exemplo), Schumacher só não quebrou outros dois recordes: o de maior número de pole positions em uma mesma temporada (14 de Mansell em 1992) e o de maior número de pole positions consecutivas (8 de Senna em 1988/1989). Ironicamente, na corrida em que Schumacher se despediu das pistas, ele teve um recorde seu quebrado, o de piloto mais jovem a se tornar bicampeão, que ele tinha estabelecido em 1996, e hoje pertence a Alonso.

Além de Schumacher, quem se despediu da categoria foram os motores Cosworth, que já foram os preferidos, mas não interessaram a nenhuma das equipes para 2007. Os patrocínios das fabricantes de cigarros, os pioneiros da Fórmula 1, também ficaram de fora devido a rígidas leis anti-tabagistas da Europa e Américas, sendo substituídos por bancos e empresas de telecomunicações. A Michelin também decidiu pedir as contas, deixando a Bridgestone como única fornecedora de pneus para a categoria. Finalmente, Montoya, que já não rendia o esperado, decidiu trocar a Fórmula 1 pela NASCAR, a categoria de stock car norte-americana. O calendário de 2007 teve 17 provas, com a saída dos GPs de San Marino e da Alemanha, a volta do GP da Bélgica, e a transferência do GP do Japão para Fuji. A principal mudança no regulamento para 2007 foi que cada carro teria que usar, obrigatoriamente, os dois tipos de pneus disponíveis ("duro" e "macio") a cada corrida, não podendo mais fazer a corrida inteira com o mesmo tipo.

Com a aposentadoria de Schumacher, todos os olhos se voltaram para Alonso, o único campeão do mundo em atividade, que se transferiu para a McLaren. O que Alonso não contava, porém, era com seu companheiro de equipe, o inglês Lewis Hamilton. Patrocinado pela McLaren desde garoto e campeão da GP2 em 2006, Hamilton ganhou ares de primeiro piloto, algo que Alonso, evidentemente, não admitiu. O resultado foi que os dois, além de companheiros de equipe e rivais, acabaram se tornando também inimigos - e essa inimizade acabou fomentada pela imprensa esportiva espanhola, que acusava a McLaren de prejudicar Alonso deliberadamente. A equipe, evidentemente, negava qualquer favorecimento, e dizia seguir a mesma política da época em que seus pilotos eram Senna e Prost, sem privilegiar nenhum, permitindo que eles se destacassem por seus próprios méritos.

Verdade ou não, a rinha entre Alonso e Hamilton acabou favorecendo Räikkönen, contratado pela Ferrari para o lugar de Schumacher. Enquanto os dois pilotos da McLaren se estranhavam, e Hamilton cometia algumas barbeiragens, o finlandês foi ganhando pontos, e permancendo no terceiro lugar do campeonato. Räikkönen chegou à última corrida do ano, no Brasil, precisando ganhar e torcer para Alonso chegar no máximo em terceiro e Hamilton no máximo em sexto. Por incrível que pareça, foi quase justamente isso que aconteceu - pois Hamilton chegou em sétimo. Graças a essa combinação, Räikkönen se tornou o segundo piloto a chegar na última corrida em terceiro e ganhar o título, sendo que o primeiro havia sido o italiano Giuseppe Farina, campeão da temporada inaugural da categoria, em 1950. Dentre os brasileiros, Massa terminou em quarto lugar, com três vitórias, e Barrichello, correndo com o péssimo carro da Honda, talvez o pior do grid, teve como melhor resultado um nono lugar no GP da Inglaterra.

No plano negativo, a temporada de 2007 foi marcada por um acidente bizarro envolvendo o polonês Robert Kubica, da BMW, que decolou da pista e destruiu seu carro contra um muro no GP do Canadá, e por um escândalo de espionagem envolvendo a McLaren, que acabou excluída do Mundial de Construtores acusada de roubar tecnologia da Ferrari. Curiosamente, apenas a equipe foi punida, não sobrando nada para seus dois pilotos brigões.

Incapaz de prosseguir como companheiro de equipe de Hamilton, Alonso voltou para a Renault em 2008, sendo substituído na McLaren pelo finlandês Heikki Kovalainen. Ainda na dança de pilotos, o campeão da Champ Cars, o francês Sébastien Bourdais, foi contratado pela Toro Rosso, Ralf Schumacher saiu da Fórmula 1 para correr na DTM, a categoria de turismo alemã, e o brasileiro Nelson Ângelo Piquet passou de piloto de testes para titular da Renault. Pela primeira vez a Fórmula 1 teve uma equipe indiana, a Force India, de propriedade do multimilionário Vijay Mallya. Por outro lado, sem conseguir pagar suas contas, a Super Aguri deixou o campeonato após quatro corridas. O calendário de 2008 contou com 18 provas, com a saída do GP dos Estados Unidos, a volta do GP da Alemanha, a transferência do GP da Europa para Valencia, Espanha, em um belíssimo circuito de rua, e a estréia do GP de Cingapura, disputado em Marina Bay, também em um circuito de rua. Devido a problemas de fuso-horário e reclamações das emissoras de TV européias, o GP de Cingapura se tornou a primeira prova da história da Fórmula 1 a ser disputada à noite, com a ajuda de poderosos refletores.

Cingapura, porém, acabria marcada não por esse fato, mas pelo "cingapuragate", um escândalo envolvendo a equipe Renault, que só viria à tona em 2009. Na décima-quarta volta da corrida, Nelsinho Piquet perdeu o controle do carro, se chocou contra o muro e provocou a entrada do safety car. Graças a isso, Alonso, companheiro de equipe de Nelsinho, que havia reabastecido pouco antes do acidente, venceu a prova. Após ser dispensado pela Renault depois do GP da Hungria de 2009, Nelsinho revelaria que recebeu ordens dos boxes para bater de propósito naquele momento e beneficiar Alonso. A denúncia rendeu uma investigação por parte da FIA que resultou no banimento de Flavio Briatore, gerente da equipe, da categoria. A rigor, a Renault não foi punida, mas ficará sob observação durante as temporadas de 2010 e 2011, sendo automaticamente banida do esporte se cometer qualquer infração grave. Além desse escândalo, o GP de Cingapura também contou com um acidente bizarro, quando os mecânicos da Ferrari deram ordem para que Felipe Massa deixasse os boxes enquanto seu carro ainda estava sendo reabastecido. Massa saiu arrastando a mangueira do reabastecimento, teve de parar na saída dos boxes para que ela fosse removida, e perdeu várias posições, comprometendo sua posição no campeonato.

O campeonato, aliás, foi decidido mais uma vez por uma diferença de um ponto, desta vez em favor de Lewis Hamilton, que roubou de Alonso o recorde de piloto mais jovem a ser campeão. Massa quase se tornou o quarto brasileiro campeão do mundo: na última corrida do ano, o GP do Brasil, precisava vencer, e torcer para Hamilton chegar no máximo em sexto lugar. Esta situação estava se configurando até a última curva da corrida, quando Hamilton ultrapassou o Toyota do alemão Timo Glock, que não entrara nos boxes para trocar pneus quando começou a chover, e mal conseguia se manter na pista. O resultado foi que a família de Massa chegou a comemorar, não percebendo que Glock havia sido ultrapassado e Hamilton conquistado o título. Massa terminaria o campeonato em segundo lugar, conseguindo seis vitórias - uma a mais que o inglês campeão. Nelsinho seria o décimo-segundo, tendo como melhor resultado um segundo lugar no GP da Alemanha, e Barrichello terminaria em décimo-quarto, com um heróico terceiro lugar no GP da Inglaterra.

No regulamento, em 2008 foi decretada a proibição do uso do controle de tração e do controle de largada, bem como do desenvolvimento dos motores durante cinco anos - ou seja, os mesmos modelos de motores têm de ser usados de 2008 a 2012, sem quaisquer melhorias nesse período. Para 2009, porém, as modificações foram ainda mais radicais: com as desculpas de driblar a crise econômica mundial e trazer o espetáculo de volta às corridas, a FIA proibiu diversos itens que influenciavam na aerodinâmica dos carros, trouxe de volta os pneus slick, sem sulcos, banidos desde 1998, permitiu partes móveis, controladas pelo piloto, na asa dianteira dos carros pela primeira vez na história da categoria, e introduziu o KERS, uma geringonça que armazenava energia quando o piloto freava, transformando-a em potência extra - uma espécie de turbo - que podia ser utilizada uma vez por volta. A princípio, o KERS seria obrigatório, mas como era caro e não estava completamente desenvolvido, acabou se tornando opcional.

Todas essas mudanças acabaram fazendo uma verdadeira revolução no campeonato, que começou quando a Honda, sem conseguir se livrar de sucessivos prejuízos, anunciou que estava deixando a Fórmula 1. Ross Brawn, ex-estrategista da Ferrari e diretor técnico da Honda na época, decidiu comprar o espólio da equipe e renomeá-la Brawn GP, mantendo os mecânicos e pilotos, e passando a usar motores Mercedes. Como grande estrategista que é, Brawn encontrou uma brecha no regulamento, e instalou em seus carros um difusor traseiro duplo, que influenciava na aerodinâmica do carro, tornando-o muito mais veloz que os da McLaren ou Ferrari, que todos esperavam continuar dominando a categoria. A Brawn não foi a única equipe a usar o difusor - a Williams e a Toyota também desenvolveram modelos parecidos - mas foi a que mais se beneficiou da peça, ao ponto de sua legalidade ser contestada junto à FIA. Depois que o difusor foi considerado dentro das regras, as outras equipes passaram a usá-lo, mas sem conseguir alcançar a Brawn.

O resultado foi que a primeira metade da temporada foi dominada por Jenson Button e Rubens Barrichello, ambos já considerados por muitos como acabados para o esporte. Button se adaptou melhor ao carro, e venceu seis das sete primeiras provas da temporada, adquirindo uma vantagem que lhe permitiu ganhar seu primeiro campeonato, e transformar a Brawn na primeira equipe estreante a ganhar o Mundial de Construtores. Conforme os demais carros se adaptavam ao regulamento - e alguns migravam para o difusor duplo - a principal rival da Brawn se mostrou não uma das grandes, mas a Red Bull, com um carro desenhado por Adrian Newey, pilotado pelo novato alemão Sebastian Vettel e pelo veterano australiano Mark Webber. Vettel ganhou quatro corridas, e por alguns momentos até chegou a ameaçar o título de Button, conquistado na penúltima prova, o GP do Brasil.

Apesar da aparente ressurreição de Barrichello, o ano de 2009 não foi bom para os brasileiros. Sem conseguir se adaptar ao carro, especialmente aos freios, nas primeiras corridas, Rubens terminou o ano com duas vitórias, mas em terceiro lugar no campeonato, sem conseguir ameaçar o título de seu companheiro de equipe. Pior que isso, durante os treinos para o GP da Hungria, uma mola se soltou de seu carro e atingiu o capacete de Felipe Massa, que não pôde correr o restante da temporada, terminando o campeonato em décimo-primeiro lugar, com o melhor resultado de um terceiro no GP da Alemanha. Após o mesmo GP da Hungria, Nelsinho Piquet foi demitido da Renault - o que motivou o episódio do "cingapuragate" - sob a alegação de maus resultados - de fato, seu melhor foi um décimo lugar no GP do Bahrein.

O calendário de 2009 teve a estréia de um novo e moderníssimo circuito, o dos Emirados Árabes, em Yas Marina, Abu Dhabi, com direito a um túnel na saída dos boxes e a extravagância da corrida ser disputada em um horário em que começou durante o dia, com luz natural, e terminou à noite, sob holofotes. O GP do Japão voltou para Suzuka, o da Alemanha foi disputado em Nurburgring, e os do Canadá e da França foram removidos, para um total de 17 provas. A curiosidade ficou por conta do GP da Malásia, que terminou antes do final por causa de fortes chuvas, e só rendeu aos pilotos que pontuaram metade dos pontos que ganhariam normalmente.

Apesar de tão bem sucedida, a equipe Brawn teve vida curta, sendo comprada e renomeada no final da temporada pela Mercedes. A temporada de 2010, aliás, promete muitas surpresas e novidades, com a volta não só da Mercedes, mas também de Michael Schumacher, contratado pela equipe alemã para ganhar seu oitavo título. Button foi para a McLaren fazer dupla com Hamilton, na primeira vez em que uma equipe reúne os dois mais recentes campeões do mundo desde 1989, quando a própria McLaren teve Senna e Prost. Alonso foi para a Ferrari e é o novo companheiro de Massa, substituindo Räikkönen, que decidiu tirar um ano de férias. No regulamento, o reabastecimento acabou, com os carros já largando com todo o combustível que usarão e entrando nos boxes somente para trocar pneus, algo que não acontecia desde 1993, e um novo sistema de pontuação premiará os dez primeiros de cada corrida, e não os oito como atualmente. No calendário, estão previstas 19 provas, com o retorno do GP do Canadá e a estréia do GP da Coréia do Sul, em Yeongam, que, entretanto, só será realizado se o circuito ficar pronto a tempo. Em relação às equipes, a Toyota, seguindo a Honda, também abandonou a Fórmula 1, e a BMW reverteu ao seu estado anterior e voltou a se chamar Sauber e usar motores Ferrari. Mas a maior novidade talvez seja a entrada de quatro novas equipes, Campos Meta, USF1, Virgin e Lotus - que não é a mesma da Era de Ouro do esporte, mas uma equipe da Malásia que usa o mesmo nome. Com elas, voltaram os motores Cosworth, e o número de brasileiros na categoria aumentou para quatro: além de Massa, na Ferrari, e Barrichello, agora na Williams, teremos Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, na Campos Meta, e Lucas di Grassi na Virgin.

Mas isso tudo terá de ficar para um próximo post, o do período 2010-2019. Quem sabe se o átomo durar mais uns dez anos ele não ganhe um lugar aqui?

Série Fórmula 1

2000-2009

Ler mais

sábado, 30 de setembro de 2006

Escrito por em 30.9.06 com 0 comentários

Fórmula 1 (V)

Hoje é dia de Fórmula 1 no átomo!

1990-1999


Sendo a categoria principal do automobilismo, a Fórmula 1 sempre foi dada a inovações tecnológicas. Desde a década de 60, as equipes sempre buscaram novas formas de fazer com que seus carros se tornassem mais velozes sem depender exclusivamente do talento do piloto. Na década de 90, porém, esta obsessão pela tecnologia alcançou seu ápice.

Das três principais inovações tecnológicas da década de 90, duas, na verdade, haviam sido inventadas na década de 80. A suspensão ativa, controlada por computador para que o carro tivesse a menor perda de velocidade possível nas variações de terreno, havia sido introduzida pela Lotus em 1987; e o câmbio semi-automático, que permitia a troca de marchas com o apertar de um botão, pela Ferrari em 1989. Combinado a eles, o controle de tração, que eletronicamente controlava o motor para evitar perda de potência mesmo que o piloto acelerasse demais ou pisasse no freio na hora errada, introduzido em 1991, criaria o "carro invencível" da Williams.

Ayrton SennaMas, para a temporada de 1990, o carro invencível ainda era a McLaren e seu potente motor Honda de 12 cilindros, que havia vencido os dois campeonatos anteriores. O campeonato de 1990, aliás, seria bem parecido com o de 1989: o regulamento, que costumava mudar a cada ano, era praticamente idêntico, com a única mudança sendo uma alteração no tamanho mínimo do cockpit. Além disso, os dois principais candidatos ao título, mais uma vez, eram o brasileiro Ayrton Senna e o francês Alain Prost. Ex-companheiros de equipe na McLaren, Senna continuava correndo pela equipe de Ron Dennis, desta vez na companhia do austríaco Gerhard Berger; enquanto Prost seria o novo parceiro do inglês Nigel Mansell na Ferrari, que estava disposta a gastar quanto dinheiro fosse necessário para acabar com um jejum de dez anos sem títulos. Nelson Piquet, cansado da decadente Lotus, se tranferiu para a colorida Benetton, um dos carros mais promissores da época, equipado com motor Ford, que também estava disposta a fazer o impossível para impedir um novo título da japonesa Honda.

O calendário para 1990 teve 16 provas: Estados Unidos em Phoenix, Brasil em Interlagos, San Marino em Ímola, Mônaco em Monte Carlo, Canadá em Montreal, México na Cidade do México, França em Paul Ricard, Inglaterra em Silverstone, Alemanha em Hockenheim, Hungria em Hungaroring, Bélgica em Spa-Francorchamps, Itália em Monza, Portugal em Estoril, Espanha em Jerez de la Frontera, Japão em Suzuka e Austrália em Adelaide. Foi uma ótima temporada para os brasileiros, com Ayrton Senna chegando ao bicampeonato com seis vitórias, e Piquet, com duas, terminando na terceira posição. Prost foi o vice, com cinco triunfos.

A emoção continuaria na temporada de 1991, considerada por muitos a última das grandes temporadas da categoria. Senna se igualaria a Piquet como mais um brasileiro tricampeão após vencer sete corridas, sem se sentir ameaçado por nenhum rival durante toda a temporada. Piquet teve sua última vitória na Fórmula 1, no GP do Canadá, e terminou o campeonato na sexta colocação, encerrando sua longa e vitoriosa carreira ao final desta temporada. Insatisfeito com a Ferrari, Mansell voltou para a Williams, que havia acabado de instalar o novíssimo controle de tração em seus carros equipados com o poderoso motor Renault, e fez uma excelente temporada, vencendo cinco provas e terminando na segunda colocação. A Ferrari, apesar de todo o investimento, não venceu uma prova sequer, e acabou demitindo Prost no final da temporada. 1991 também foi o ano de estréia daquele que viria a se tornar o maior recordista da história da categoria, o alemão Michael Schumacher. Schumacher foi contratado pela pequena equipe Jordan para substituir o francês Bertrand Gachot, que havia sido preso em Londres por borrifar spray de pimenta no rosto de um taxista durante uma discussão de trânsito. A excelente atuação de Schumacher no GP da Bélgica, considerado um dos mais difíceis do calendário, e onde ele nunca havia corrido, chamou a atenção da Benetton, que o contratou para correr as duas últimas provas da temporada no lugar do brasileiro Roberto Moreno, o que causou a ira de Eddie Jordan, que acusou a Benetton de conduta desleal. O calendário só teve duas alterações, a transferência do GP da França para o novíssimo circuito de Magny-Cours, e do GP da Espanha para Montmeló.

O bom desempenho de Mansell em 1991 era apenas um trailer do que estava por vir em 1992. Aliando um excelente chassis a um excelente motor e à mais moderna tecnologia, a Williams conseguiu um carro imbatível. Com ele, Mansell venceu um recorde de nove corridas, sendo as cinco primeiras seguidas, e se tornou campeão pela primeira vez, com cinco provas de antecedência. Prost, demitido no ano anterior, sequer correu, atuando como comentarista para a TV francesa. A McLaren, mesmo com um carro com problemas de projeto, venceria cinco provas, três com Senna, que terminaria o campeonato em quarto lugar, e duas com Berger. Schumacher venceria sua primeira prova, curiosamente o GP da Bélgica onde ele havia estreado no ano anterior, e terminaria o campeonato na terceira posição. 1992 ainda seria o ano de estréia do brasileiro Christian Fittipaldi, filho de Wilson e sobrinho de Emerson, que correu as temporadas de 1992 e 1993 pela Minardi e a de 1994 pela Footwork, tendo como melhor resultado três quartos lugares, nos GPs da África do Sul de 1993, e do Pacífico e da Alemanha de 1994. 1992 ainda foi o ano em que a última mulher se aventurou a correr na Fórmula 1, com a italiana Giovanna Amati tentando se qualificar para as três primeiras provas com uma Brabham, mas sem sucesso. A única alteração no calendário de 1992 foi a troca do GP dos Estados Unidos pelo da África do Sul, em Kyalami.

Irritado com o fraco desempenho de seu McLaren - que ainda por cima havia ficado sem o motor Honda, pois a montadora japonesa havia decidido "dar um tempo" na Fórmula 1 - Senna, amigo de Frank Williams, tentou se transferir para lá em 1993. No meio da temporada de 1992, porém, a equipe havia contratado Alain Prost. Segundo boatos, Prost teria "embarreirado" a contratação de Senna, para não ter de dividir os holofotes com o rival. Furioso, Senna chegou a chamar Prost de covarde durante uma entrevista.

1993 foi uma temporada de muitas novidades. Para começar, a FISA havia deixado de existir após uma reestruturação da FIA, passando a organização dos GPs e atividades correlatas a esta. Berger se transferiu para a Ferrari, e o novo parceiro de Senna seria o norte-americano Michael Andretti, filho do campeão Mario Andretti. Um novo brasileiro estrearia na categoria, Rubens Barrichello, que, correndo pela Jordan, conseguiu um quinto lugar no GP do Japão. O GP do México deixou o calendário, dando lugar ao GP da Europa, disputado em Donnington Park, Inglaterra. E a novidade mais curiosa foi um carro de número zero, do inglês Damon Hill, filho de Graham Hill, companheiro de Prost na Williams. Explica-se: na Fórmula 1, o carro de número 1 é sempre do atual campeão. O atual campeão, no caso, era Mansell, que havia deixado a categoria e se transferido para a Fórmula Indy. Com isso, a Williams poderia escolher qualquer número para seus carros, exceto o 1. Por alguma razão, eles decidiram que Hill seria o 0, e Prost o 2, o que acabou dando ao piloto inglês o apelido de "Capitão Zero".

A única coisa que não foi novidade em 1993 foi o domínio da Williams. Prost, que chegaria ao seu quarto título mundial, conseguiria sete vitórias, e Hill mais duas. Senna, mesmo com um carro capenga, se aproveitaria de sua extrema habilidade para dirigir na chuva, e conseguiria cinco vitórias, terminando como vice-campeão. A prova restante, o GP de Portugal, seria vencido por Schumacher.

A esta altura, parecia claro que, até que alguém conseguisse fazer um carro melhor, qualquer um contratado pela Williams para ser seu primeiro piloto automaticamente seria o campeão. Isto, evidentemente, não interessava à FIA, que preparou um pacote de mudanças para a temporada de 1994. De uma vez só, a FIA baniu a suspensão ativa e o controle de tração, duas das principais armas da Williams. Além disso, para aumentar a emoção das corridas, ela limitou o tamanho dos tanques de gasolina, tornando o reabastecimento durante as provas obrigatório - até 1982 ele era permitido, mas desde 1959 que as equipes preferiam fazer carros com tanques suficientemente grandes para agüentar até o final da prova, pois parar para reabastecer significava uma perda de tempo enorme; em 1982 a Brabham percebeu que correr com pouco combustível e reabastecer toda vez que ia trocar pneus fazia com que o carro, mais leve, se tornasse mais veloz que seus concorrentes; isto foi considerado por muitos como uma infração de regulamento, e proibido desde então. No calendário, o GP da Europa passou para Jerez de la Frontera, e o GP da África do Sul foi substituído pelo GP do Pacífico, em Aida, Japão.

Sem as inovações tecnológicas, os três carros mais fortes da temporada, no papel, seriam a McLaren, com seu novo motor Peugeot; a Benetton, com Michael Schumacher e um poderoso motor Ford Zetec; e a Williams, que tinha perdido sua eletrônica, mas ainda tinha o motor mais forte, o Renault, e o melhor piloto em atividade, Ayrton Senna, que para lá havia se transferido após a aposentadoria de Prost (o que fez com que Hill fosse o Capitão Zero pelo segundo ano consecutivo). Senna conseguiu a pole position nas três primeiras corridas da temporada, mas abandonou tanto no GP do Brasil quanto no GP do Pacífico.

E então veio o GP da San Marino. Desde o início esta parecia que seria uma corrida atípica. Logo no primeiro dia de treinos, a Jordan de Barrichello deu um vôo após sair da pista, e o piloto teria morrido se não fosse a atuação rápida do Dr. Syd Watkins, o médico da Fórmula 1. Menos sorte teve o austríaco Roland Ratzenberger, que estreava na categoria correndo pela equipe Simtek, e morreu instantaneamente ao se chocar contra um muro ao sair da pista. Senna ficou muito abalado com estes acidentes, e chegou a cogitar não correr, mas momentos antes da prova mudou de idéia. Logo no início da corrida, um acidente entre o português Pedro Lamy, da Lotus, e o finlandês Jyrki Järvi Lehto, da Benetton, fez com que o Safety Car entrasse na pista. Apenas uma volta após a relargada, a barra de direção da Williams se quebrou, e Senna bateu a mais de 215 Km/h na saída da curva Tamburello. Segundo fontes oficiais, Senna faleceu no hospital, mas a quantidade de sangue na pista e a demora no atendimento levaram muitos a crer que ele teria morrido instantaneamente.

A morte de Senna chocou o mundo da Fórmula 1, mas a temporada tinha de continuar. Após mais um grave acidente na corrida seguinte, em Mônaco, que deixou o austríaco Karl Wendlinger, da Sauber, em coma, a FIA decidiu novamente intervir, modificando ainda mais as regras em nome da segurança. As caixas de ar teriam de ser vazadas, para piorar a refrigeração dos motores e limitar os giros máximos; o combustível, uma mistura altamente enriquecida, especial para a categoria, foi substutuído por gasolina comum, usada em qualquer carro de passeio; e uma placa de madeira seria colada ao assoalho do carro, para diminuir o efeito solo.

O campeão de 1994 foi Schumacher, o primeiro título da Alemanha e o primeiro da Benetton. Schumacher seria suspenso por várias corridas, pela FIA entender que seu Benetton violava as novas regras, mas mesmo assim venceu oito provas, duas a mais que Hill, que passou a ser seu maior rival após a morte de Senna. Curiosamente, Nigel Mansell voltou à Williams para correr quatro provas, e venceu o GP da Austrália, após Schumacher jogar seu carro sobre o de Hill para garantir seu título. Barrichello fez uma boa temporada, conseguindo um terceiro lugar no GP do Pacífico.

Para 1995 ainda teríamos mais modificações em nome da segurança: foram banidos os pneus slick, com os carros, mesmo em pista seca, tendo de utilizar pneus com sulcos, e todos os quatro do mesmo tamanho; e o tamanho mínimo do cockpit aumentou, para que fosse mais fácil socorrer um piloto, e diminuísse a chance dele bater com a cabeça em caso de acidente. Além disso, a FIA criou um "modelo", que todas as equipes teriam de seguir se quisesem fazer um carro de Fórmula 1, sem lugar para invenções extravagantes; e aumentou o rigor de seus testes, para garantir que cada pecinha do carro estivesse de acordo com o novo regulamento. Mas a mudança mais significativa foram obras e mais obras nos circuitos, fechando curvas, diminuindo retas e adicionando chicanes - curvas curtas que têm o intuito de reduzir a velocidade dos carros - tudo em nome da segurança e visando diminuir acidentes, mas que, para muitos, acabou com a graça das corridas, reduzindo a quase zero as ultrapassagens, e fazendo com que largar bem e ter uma boa estratégia de parada nos boxes se tornasse mais importante que dirigir com maestria.

Tanto Benetton quanto Williams correram com motores Renault em 1995, e a força dos motores franceses era tanta que estas duas equipes venceram 16 das 17 provas: Schumacher venceria nove, e seu parceiro de Benetton, o inglês Johnny Herbert, mais duas; Hill venceu quatro, e seu companheiro de Williams, o escocês David Coulthard, uma. A única corrida não vencida por um Renault foi o GP do Canadá, onde o campeão foi o francês Jean Alesi, da Ferrari. Com estes resultados, Schumacher conseguiu seu segundo título, e a Benetton foi campeã de construtores sem ser ameaçada por nenhuma outra equipe. Mansell, após tentar sem sucesso correr pela Williams, assinou com a McLaren, que conseguiu motores Mercedes, mas só correu dois GPs antes de se aposentar de vez. Barrichello, apesar de abandonar a maioria das provas, conseguiu um segundo lugar no GP do Canadá. No calendário, o GP da Europa passou para Nürburgring, e foi adicionado o GP da Argentina, em Buenos Aires. 1995 foi o ano de estréia do brasileiro Pedro Paulo Diniz, que correu esta temporada pela Forti Corsi, 1996 pela Ligier, 1997 e 1998 pela Arrows, 1999 e 2000 pela Sauber, tendo como melhor resultado dois quintos lugares, no GP de Luxemburgo de 1997 e no da Bélgica de 1998. Mas o personagem mais pitoresco do ano foi o japonês Taki Inoue, da Footwork, que, durante o GP da Hungria, ao abandonar com um princípio de incêndio, decidiu sair do carro, pegar um extintor, e voltar para ajudar os fiscais a debelar o fogo. No percurso, Inoue foi atropelado pelo carro dos fiscais e quebrou a perna.

Para 1996, a Ferrari, cujo último título havia sido em 1979, decidiu mais uma vez abrir o cofre, contratando os melhores projetistas, os melhores engenheiros, e o melhor piloto, Schumacher. A equipe italiana decidiu fazer um planejamento longo, trabalhando em função do alemão, como se o carro fosse feito especialmente para ele, sabendo que, com seu talento, acabaria colhendo bons resultados. Para conseguir Schumacher, a Ferrari acabou cedendo seus dois pilotos, Berger e Alesi, para a Benetton, e contratou o irlandês Eddie Irvine para ser o "escudeiro" do alemão, ou seja, correr para tentar tirar pontos dos rivais.

Mesmo em sua primeira temporada, e com um carro que ainda tinha muito o que evoluir, Schumacher conseguiu três vitórias, mais do que a Ferrari havia conseguido nos últimos cinco anos. Sem ele, a Benetton desceu de nível, e seus pilotos não fizeram uma boa temporada. As provas foram mais uma vez dominadas pela Williams, que tinha o carro mais consistente, e venceu 12 das 16 provas, quatro com o canadense Jacques Villeneuve, filho de Gilles, e mais oito com Hill, o primeiro filho de campeão da Fórmula 1 a se tornar ele mesmo também campeão. A corrida que sobrou foi um GP de Mônaco atípico, com tantas quebras e acidentes que apenas sete pilotos completaram a prova, vencida pelo francês Olivier Panis, da Ligier. Barrichello, em sua última temporada pela Jordan, terminou o campeonato em oitavo lugar, sem conseguir nenhum pódio. Outros dois brasileiros estrearam na categoria neste ano: Ricardo Rosset, que correu pela Footwork, e depois em 1998 pela Tyrrell, tendo como melhor resultado dois oitavos lugares, nos GPs da Hungria de 1996 e do Canadá de 1998; e Tarso Marques, que correu as temporadas de 1996, 1997 e 2001 pela Minardi, conseguindo dois nonos lugares, nos GPs do Brasil e Canadá de 2001. O calendário voltou a ter 16 provas, com a saída do GP do Pacífico, e a transferência do GP da Austrália para Melbourne.

A partir de 1996, a FIA cedeu todos os direitos comerciais sobre a Fórmula 1, por um prazo de 14 anos, para a FOA (Formula One Administration, ou Administração da Fórmula 1), que, por sua vez, definiu que a geração das imagens para a TV, até então de responsabilidade de uma das emissoras do local onde ocorreria a corrida, caberia a uma subsidiária sua, a FOM (Formula One Management, ou Gerenciamento da Fórmula 1). O presidente da FOA era Bernie Ecclestone, ex-presidente da FOCA, o que gerou alguns protestos de McLaren, Tyrrell e Williams, e levou à assinatura de um novo Pacto de Concórdia, que valeria do primeiro dia de 1997 ao último de 2007.

Além de um novo Pacto, a temporada de 1997 começou com um movimento inusitado: insatisfeito com a Williams, Hill se transferiu para a Arrows, uma equipe pequena e sem a menor chance de vitórias, e que talvez jamais pensasse um dia ter um carro número 1. Com isso, o caminho para o título ficou aberto para Villeneuve, que venceu sete provas. Mas o caminho de Villeneuve não foi fácil, com Schumacher, que venceu cinco provas, sempre muito próximo, e as McLaren, pilotadas por Coulthard e pelo finlandês Mika Häkkinen, que conseguiram uma vitória cada, em constante evolução. Villeneuve só conseguiu garantir o título na última prova, o GP da Europa. Assim como em 1994, Schumacher jogou o carro em cima de seu rival, o que, se tivesse funcionado, teria dado o tricampeonato ao alemão. Desta vez, porém, Schumacher se deu mal: seu carro foi avariado, mas Villeneuve seguiu na corrida e terminou em terceiro lugar. Pior que isso, a FIA considerou a atutude de Schumacher antidesportiva, e o desclassificou, fazendo com que ele perdesse todos os pontos conseguidos durante o ano - sem afetar a pontuação dos demais pilotos, o que poderia causar caos na pontuação final. O calendário mais uma vez teve 17 provas, com a saída do GP de Portugal e a entrada do GP da Áustria, em Spielberg, e do curioso GP de Luxemburgo, na verdade disputado em Nürburgring, Alemanha, o que levou o GP da Europa para Jerez de la Frontera. Barrichello se transferiu para uma nova equipe, a Stewart, do tricampeão Jackie Stewart, mas abandonou todas as provas menos três, uma delas o GP de Mônaco, onde conseguiu um segundo lugar.

Em 1998 a Renault decidiu se ausentar da Fórmula 1, deixando Williams e Benetton, respectivamente, com os desconhecidos motores Mechachrome e Playlife, na verdade versões modificadas de motores Renault de 1997. Com isso, o motor mais forte passou a ser o Mercedes, que impulsionava a McLaren, que desde o ano anterior já mostrava ser capaz de levar um de seus pilotos mais uma vez ao título. E isso foi comprovado após a excelente temporada de Häkkinen, que venceu oito provas e se sagrou campeão 14 pontos à frente de Schumacher, que venceu seis, mostrando que a Ferrari também estava evoluindo, e que logo começaria a dar trabalho aos rivais. Barrichello conseguiu completar seis provas, terminando o campeonato em 12o lugar. E o calendário voltou para 16 provas, com a saída do GP da Europa.

A temporada de 1998 foi um passeio de Häkkinen, mas o finlandês teria muito mais dificuldades para conquistar seu bicampeonato em 1999. Após tanto trabalho, a Ferrari começou a colher seus frutos, com o primeiro carro verdadeiramente competitivo em muito tempo. Schumacher tinha tudo para ser o campeão, mas ao tentar uma ultrapassagem sobre Irvine, no GP da Inglaterra, bateu de frente e quebrou a perna, ficando de fora das seis corridas seguintes, e tendo mais uma vez que adiar seu tricampeonato. Irvine também teve a chance de acabar com o jejum da Ferrari, mas acabou o campeonato apenas dois pontos atrás de Häkkinen, com quatro vitórias contra cinco do finlandês. Dizem as más línguas que um Irvine campeão não interessava após tanto esforço a favor de Schumacher. Verdade ou mentira, este foi o último ano do irlandês na escuderia. Barrichello, também em seu último ano na Stewart, conseguiu três terceiros lugares, terminando o campeonato em sétimo; e mais um brasileiro, Ricardo Zonta, estreou na Fórmula 1, correndo as temporadas de 1999 e 2000 pela nova equipe BAR, a de 2001 pela Jordan, e algumas provas de 2004 e 2005 pela Toyota, conseguindo três sextos lugares em 2000. No calendário de 1999, o GP de Luxemburgo mudou de nome para GP da Europa, e o GP da Malásia, em Sepang, entrou no lugar do GP da Argentina.

Breve, a conclusão desta história!

Série Fórmula 1

1990-1999

Ler mais

domingo, 3 de setembro de 2006

Escrito por em 3.9.06 com 0 comentários

Fórmula 1 (IV)

E vamos a mais um post sobre a História da Fórmula 1!

1980-1989


A década de 80 já começou com uma confusão: desde sua criação, a Federação Internacional de Automobilismo sempre foi o órgão máximo deste esporte, mas desde 1922 a FIA não participava diretamente da organização das corridas, este papel cabendo a uma entidade autônoma ligada à federação, conhecida como CSI, Comission Sportive Internationale, ou Comitê Esportivo Internacional. Em 1979, se valendo do grande prestígio da Fórmula 1, o CSI se reestruturou, mudando seu nome para FISA, Fédération Internationale du Sport Automobile, ou Federação Internacional do Esporte Automotor. Seu presidente, Jean Marie Balestre, entendia que a FISA, além de organizar as corridas, tinha autoridade para legislar sobre assuntos como distribuição do dinheiro proveniente das cotas de televisão e permissão ou não para as equipes utilizarem inovações tecnológicas em seus carros. Tal posicionamento, evidentemente, ia contra os interesses das equipes representadas pela FOCA, Formula One Constructors Association, a Associação dos Construtores da Fórmula 1, então presidida pelo dono da equipe Brabham, Bernie Ecclestone. Este conflito de interesses acabou evoluindo até o que ficou conhecido como a Guerra FISA-FOCA, que se alastrou por praticamente toda a década.

Nelson PiquetNa temporada de 1980, a Guerra ainda era apenas uma escaramuça, que não afetou muito o desempenho das equipes. Ainda assim, a categoria começava a se dividir, com as equipes mais fortes, como Ferrari, Renault e Alfa Romeo, se posicionando do lado da FISA, enquanto praticamente todas as demais equipes se filiaram à FOCA. O calendário contou com 14 provas: Argentina em Buenos Aires, Brasil em Interlagos, África do Sul em Kyalami, Estados Unidos Oeste em Long Beach, Bélgica em Zolder, Mônaco em Monte Carlo, França em Paul Ricard, Inglaterra em Brands Hatch, Alemanha em Hockenheim, Áustria em Österreichring, Holanda em Zandvoort, San Marino em Ímola, Canadá em Montreal, e Estados Unidos em Watkins Glen. O campeão foi o australiano Alan Jones, piloto da Williams, que conseguiu cinco vitórias. O brasileiro Nelson Piquet, correndo pela Brabham, faria uma temporada excelente, conseguindo três vitórias, o terceiro brasileiro a vencer na história da categoria. A morte visitou mais uma vez a Fórmula 1, quando o francês Patrick Depailler, piloto da Alfa Romeo, saiu da pista sofrendo ferimentos na cabeça após uma quebra de suspensão em um treino para o GP da Alemanha. E as mulheres também voltaram à categoria, com a sul-africana Desiré Wilson participando da sessão de qualificação para o GP da Inglaterra pilotando uma Williams, embora sem conseguir tempo suficiente para a largada.

1980 foi a última temporada na Fórmula 1 de Emerson Fittipaldi. A equipe Fittipaldi havia perdido o patrocínio da Copersucar, e correu neste ano patrocinada pela Skol. Além disso, Wilson Fittipaldi havia comprado o que restara da falida equipe Wolf, e contratado o finlandês Keke Rosberg, ex-piloto da Wolf, para ser parceiro de Emerson. O carro da Fittipaldi para 1980, portanto, era uma versão modificada do carro de 1979 da Wolf, projetado por Adrian Newey, que mais tarde viria a se tornar um dos melhores projetistas da Fórmula 1. Com este bom carro, Rosberg conseguiu um terceiro lugar logo na abertura da temporada, no GP da Argentina, e Emerson conseguiria mais um terceiro no GP dos Estados Unidos Oeste. Infelizmente, a equipe não conseguiria manter o bom desempenho nas provas seguintes. Ao final da temporada, Emerson pararia de correr e passaria a administrar a equipe, retornando às pistas em 1984 na Fórmula Indy.

A temporada de 1981 começou movimentada: revoltada com o gerenciamento da FISA, a FOCA conclamou suas equipes a montar seu próprio campeonato, concorrente com a Fórmula 1. Uma corrida chegou a ser realizada na África do Sul, vencida pelo argentino Carlos Reutemann, mas o campeonato paralelo logo foi abandonado por falta de interesse do público e de cobertura da imprensa, e todas as equipes da FOCA acabaram disputando o campeonato regular. Melhor para Nelson Piquet, que a bordo de seu Brabham e com três vitórias se tornou o segundo brasileiro campeão da Fórmula 1, um ponto a frente de Reutemann. Três também foi o número de vitórias conseguidas por Alain Prost, piloto francês da Renault, enquanto Reutemann e Jones, da Williams; o canadense Gilles Villeneuve, da Ferrari; e o francês Jacques Lafitte, da Ligier conseguiram duas cada. A Fittipaldi teve uma temporada péssima, perdendo o patrocínio da Skol e correndo a maioria das provas com carros antigos adaptados. Rosberg só conseguiria completar três provas, e seu novo parceiro, o brasileiro Chico Serra, que estreava na categoria naquele ano, duas.

A maior inovação tecnológica de 1981 foi introduzida pela McLaren, em sua primeira temporada dirigida por Ron Dennis: o chassis de fibra de carbono. A princípio, houve um temor de que ele se despedaçaria em caso de acidente, mas ao longo do tempo ele se provou até mais resistente que o de alumínio utilizado até então, além de bem mais leve. Tais vantagens fizeram com que, a partir do meio da década, todas as equipes passassem a utilizar chassis deste tipo. 1981 também foi o ano da assinatura do primeiro Pacto de Concórdia - que recebeu este nome por ter sido assinado na Praça da Concórdia, em Paris - um documento de teor majoritariamente secreto, que teoricamente selaria a paz entre a FISA e a FOCA, determinando, entre outras coisas, que a FOCA seria a responsável por televisionar as corridas e ficar com o lucro decorrente desta atividade. Este primeiro Pacto expiraria em 1987, quando seria feito outro. No calendário de 1981, com 15 provas, o GP da França passou para Dijon-Prenois, o da Inglaterra para Silverstone, o do Brasil para o Rio de Janeiro, voltaram os GPs da Espanha, em Jarama, e da Itália, em Monza, saiu o da África do Sul, e o GP dos Estados Unidos em Watkins Glen foi substituído pelo GP de Las Vegas. Como o GP de San Marino na verdade é realizado na Itália (onde fica a cidade de Ímola), Itália e EUA ficaram com dois GPs cada, o que deu início a uma lenda de que o GP de San Marino teria sido criado para agradar à Ferrari.

O número de provas aumentaria para 16 em 1982, com a volta do GP da África do Sul. Os "GPs itinerantes" de França e Inglaterra voltariam para Paul Ricard e Brands Hatch, o GP da Espanha seria substituído pelo GP da Suíça, em Dijon, e o da Argentina daria lugar ao GP dos Estados Unidos Leste, em Detroit, fazendo com que os EUA tivessem três GPs em uma mesma temporada. Keke Rosberg, que se transferiu para a Williams, seria o campeão, apesar de vencer apenas uma corrida. Os franceses dominaram a temporada, com Alain Prost e René Arnoux, da Renault, e Didier Pironi, da Ferrari, vencendo duas corridas cada, e Patrick Tambay, também da Ferrari, mais uma. Nelson Piquet conseguiu uma vitória, no GP do Canadá. Chico Serra, a bordo de um Fittipaldi, conseguiria seu melhor resultado, um sexto lugar no GP da Bélgica. Ao final da temporada, Serra se transferiria para a Arrows, onde correria a temporada de 1983. A Fittipaldi não resistiria além deste ano, e fecharia suas portas, encerrando o sonho de uma equipe brasileira de ponta na Fórmula 1. A Fittipaldi saiu, dois brasileiros entraram: Raul Boesel correu a temporada de 1982 pela March e a de 1983 pela Ligier, tendo como melhor resultado um sétimo lugar no GP dos Estados Unidos Oeste de 1983. Roberto Pupo Moreno teria uma carreira mais longa, correndo o GP da Holanda de 1982 pela Lotus, as duas últimas corridas de 1987 pela AGS, a temporada de 1989 pela Coloni, a de 1990 pela Eurobrun, os dois últimos GPs de 1990 e a temporada de 1991 pela Benetton, os GPs da Itália e Portugal de 1991 pela Jordan, o GP da Austrália de 1991 pela Minardi, a temporada de 1992 pela Moda e a de 1995 pela Forti Corsi. Seu melhor resultado foi um segundo lugar no GP do Japão de 1990.

A temporada de 1982 também foi marcada por um boicote: as equipes da FISA já usavam motores turbo, introduzidos pela Renault no final da década de 70. Os carros da FOCA, incapazes de competir com eles com seus motores Cosworth, começaram a buscar brechas no regulamento, e acabaram encontrando a oportunidade perfeita: o regulamento dizia que fluidos de freio e refrigeração eram incluídos no peso mínimo e máximo do carro durante a pesagem, mas não diziam nada sobre eles terem de estar ali durante a corrida. Para a corrida do Brasil, portanto, os carros da FOCA apareceram com "freios refrigrados a água", e dois enormes tanques de água supostamente usada para refrigerar os freios. Na verdade, essa água seria expelida dos tanques nas primeiras voltas da prova, o que fazia com que os carros da FOCA corressem abaixo do peso mínimo, se tornando muito mais velozes que os da FISA. Antes da pesagem pós-corrida, as equipes encheram os tanques de água novamente, e foram aprovadas. A corrida foi vencida por Piquet, com Rosberg em segundo, ambos pilotando carros da FOCA (Brabham e Williams). A equipe Renault, da FISA, decidiu pedir impugnação do resultado, alegando má-fé, para que seu piloto Prost ganhasse os pontos da vitória. A FIA aceitou o argumento, e desclassificou Piquet e Rosberg, embora mantendo os resultados dos demais carros que usaram o tal freio refrigerado a água, já que ninguém havia reclamado deles.

Brabham e Williams recorreram, e enquanto o recurso estava sendo analisado, houve o GP dos Estados Unidos Oeste. Talvez querendo mostrar onde as coisas iriam parar se todos explorassem falhas do regulamento, a Ferrari apareceu para correr com duas asas traseiras, uma bem do ladinho da outra, ambos do tamanho máximo permitido. Ao ser questionada, a equipe disse que não era uma asa do dobro do tamanho permitido, mas duas asas de tamanho permitido, uma ao lado da outra, e não havia nada no regulamento que proibisse isso. A FIA achou aquilo um absurdo e, além de negar o recurso de Williams e Brabham, ainda desclassificou a Ferrari daquela corrida, onde Villeneuve havia chegado em terceiro. Revoltado com a desclassificação de Piquet e Rosberg, Ecclestone conclamou as equipes da FOCA a boicotar o GP de San Marino. Isto deixaria a corrida com apenas as três equipes da FISA, mas Tyrrell, Osella, ATS e Toleman alegaram obrigações contratuais e correram. Ironicamente, estas quatro equipes acabaram punidas pela FOCA, mas, após o boicote, as hostilidades entre FISA e FOCA se reduziram bastante, principalmente porque os carros da FOCA passaram a contar com motores turbo, preferindo gastar um pouco mais de dinheiro do que perder corridas.

Além do boicote, 1982 teve três tragédias: na corrida do boicote, tudo ia se encaminhando para a vitória de Villeneuve, mas, na última volta, Pironi, seu companheiro de equipe, o ultrapassou e venceu. Villeneuve ficou tão furioso que prometeu jamais falar com Pironi novamente. Nos treinos para a corrida seguinte, na Bélgica, Villeneuve sofreu um acidente fatal enquanto ultrapassava o alemão Jochen Mass, da March. O acidente foi tão impressionante - Villeneuve foi ejetado para fora do carro no meio da pista - que marcou para sempre a categoria, e fez com que a Ferrari desistisse de correr a prova. Pironi ficou de certa forma perturbado após o acidente, pois muitos diziam que ele só acontecera porque Villeneuve ainda estava furioso, e, na largada para o GP do Canadá, acabaria ele também sofrendo um acidente: a luz verde da largada demorou para acender, e Pironi, na pole position, deixou o motor de sua Ferrari morrer. Quando a luz acendeu, muitos carros tiveram que desviar de Pironi, mas o italiano Riccardo Paletti, da Osella, o acertou em cheio. Paletti sofreria múltiplos ferimentos no peito, e morreria no hospital. O calvário de Pironi se completaria quando, durante os treinos para o GP da Alemanha, ele sofreria um acidente quase idêntico ao que vitimou Villeneuve, ao tentar ultrapassar a Williams do irlandês Derek Daly. Ao invés de bater e ser ejetado do carro, Pironi acertou em cheio a Renault de Prost. Ele sobreviveu, mas os ferimentos em suas pernas fariam com que ele não retornasse mais à Fórmula 1. Pironi morreria em 1987, em um acidente durante uma corrida de lanchas, que também vitimou seus co-pilotos.

Talvez o efeito solo não tenha sido a causa de tantos acidentes fatais, mas mesmo assim a FIA decidiu que, de 1983 em diante, ele sofreria severas limitações. Saias plásticas e partes abaixo do carro que encostassem no chão, por exemplo, estavam proibidas, e todos os carros teriam de ter no mínimo 6 cm entre a pista e o fundo do carro. Ainda assim, graças aos motores turbo, a velocidade não parava de aumentar. A temporada de 1983, inclusive, foi a primeira vencida por um piloto com um carro equipado com turbo, Nelson Piquet, a bordo de seu Brabham, se igualando a Emerson como bicampeão mundial. Piquet conseguiu três vitórias, mesmo número de Arnoux, agora na Ferrari, e uma a menos que Prost, mas sua regularidade durante a temporada lhe garantiu o título, com dois pontos de vantagem. No calendário, o GP da Bélgica passou para Spa-Francorchamps, o da Inglaterra voltou para Silverstone, os da Suíça e de Las Vegas foram retirados, e foi criado o GP da Europa, em Brands Hatch, fazendo com que Itália, EUA e Inglaterra tivessem dois GPs cada, em um total de 15.

Sempre preocupada com o aumento da velocidade, a FIA decidiu limitar a capacidade dos motores para a temporada de 1984. Pouco adiantou. A McLaren, com um poderoso motor Porsche turbo, dominou o campeonato, iniciando um reinado que duraria até 1991. O campeão foi Niki Lauda, que voltou da aposentadoria para vencer o campeonato com cinco vitórias. O parceiro de Lauda, Alain Prost, conseguiu sete vitórias, mas perdeu o campeonato por apenas meio ponto, o recorde de menor diferença na história da Fórmula 1. Curiosamente, os meio-pontos foram distribuídos no GP de Mônaco, que terminou antes da metade devido a uma forte chuva, por decisão do diretor de prova, Jackie Ickx, empregado da Porsche. Esta corrida foi a primeira grande atuação do brasileiro Ayrton Senna, que, correndo pela fraca equipe Toleman, chegou ao segundo lugar, e estava se aproximando de Prost com chances de ultrapassá-lo quando a prova foi interrompida. Senna, em sua primeira temporada, somou 13 pontos, terminando em décimo lugar. Piquet, com duas vitórias, terminou em quinto. O calendário viu as transferências dos GPs da França, Bélgica, Inglaterra e Europa para Dijon, Zolder, Brands Hatch e Nürburgring. O GP dos Estados Unidos Oeste virou só GP dos Estados Unidos, disputado em Dallas, e o GP de Portugal, no Estoril, aumentou o número de provas mais uma vez para 16.

Prost pode ter deixado o título escapar em 1984, mas não o fez em 1985, tornando-se o primeiro (e até hoje único) francês campeão da Fórmula 1. Com quatro vitórias, Prost assegurou o título com uma enorme vantagem de 23 pontos sobre o italiano Michele Alboreto, da Ferrari. Nesta mesma temporada, Senna, já correndo pela Lotus, se tornou o quarto brasileiro a vencer uma prova de Fórmula 1, ao subir no lugar mais alto do pódio nos GPs de Portugal e da Bélgica. Senna terminaria o campeonato em quarto lugar, e Piquet, que venceu o GP da França, em oitavo. 1985 também viu as duas primeiras vitórias do inglês Nigel Mansell, piloto da Williams que viria a se tornar um grande rival dos brasileiros. No calendário, os GPs da França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica e Europa passaram para Paul Ricard, Silverstone, Nürburgring, Spa-Francorchamps e Brands Hatch; e o GP dos Estados Unidos foi substituído pelo GP da Austrália, em Adelaide, a primeira corrida de Fórmula 1 realizada na Oceania.

1986 foi um ano cheio de novidades. Para começar, o calendário não teve os GPs da Holanda, Europa e África do Sul, sunstituídos pelos da Espanha em Jerez de la Frontera; México na Cidade do México; e o novo GP da Hungria, em Hungaroring; além das mudanças dos GPs da Inglaterra e Alemanha para Brands Hatch e Hockenheim. Além disso, Piquet trocou a Brabham pela Williams, equipada com um poderoso motor Honda, onde seria parceiro de Mansell. A Williams dominou a temporada - Mansell venceu cinco provas e Piquet quatro - mas a competição entre os pilotos fez com que nenhum dos dois conseguisse um número de pontos suficiente para bater Prost, que se tornou bicampeão também com quatro vitórias, a decisiva no último GP da temporada, quando os pilotos da Williams tiveram problemas de pneu. Piquet terminaria o campeonato em terceiro lugar, e Senna, que venceu duas provas, em quarto.

Todos os carros da temporada de 1986 usavam motores turbo, que nesta época já estavam conseguindo potências impressionantes com pouco consumo de combustível. Preocupada com a segurança, a FIA decidiu restringir a pressão máxima e a capacidade de combustível dos motores turbo, ao mesmo tempo que aumentou a capacidade de combustível permitida para os atmosféricos, que começaram a retornar à categoria. Ainda assim, os carros equipados com motores turbo de 1987 foram os mais potentes de toda a história do automobilismo, quase passando de mil cavalos de força. Foi com um motor destes que a Williams dominou mais uma vez a temporada, conseguindo a única interrupção na seqüência de sete títulos da McLaren. Mansell venceu seis provas, mas foi Piquet, com três vitórias, que se tornou o primeiro brasileiro tricampeão da Fórmula 1, graças à sua maior regularidade nas demais provas. Senna também fez uma temporada memorável, conseguindo duas vitórias e terminando no terceiro lugar do campeonato. As outras cinco corridas do calendário foram vencidas por Prost (três) e pelo austríaco Gerhard Berger, piloto da Ferrari (duas). Falando em calendário, o de 1987 só teve duas mudanças: a volta do GP da Inglaterra para Silverstone, e a troca do GP do Canadá pelo do Japão, realizado em Suzuka.

A boa temporada de Senna na Lotus no ano anterior rendeu ao piloto um contrato com a McLaren para 1988. E este não foi o único trunfo da equipe de Ron Dennis, que também conseguiu os motores Honda, que até então equipavam a Williams. Com o trio Senna-Prost-Honda, a McLaren conseguiu um domínio jamais visto, vencendo 15 das 16 provas da temporada, um recorde até hoje ainda não superado. Senna conseguiu o recorde de oito vitórias, se tornando o terceiro brasileiro campeão da Fórmula 1, enquanto Prost teve outras sete. A única prova não vencida por uma McLaren foi o GP da Itália, conquistado por Berger, para delírio da torcida da Ferrari, após Prost abandonar com uma quebra de motor e Senna se envolver em um acidente. Piquet, que trocou a Williams, que correria com motor Judd, pela Lotus, que ainda tinha motores Honda, conseguiu três terceiros lugares e terminou o campeonato em sexto. 1988 ainda foi o ano de estréia de mais um brasileiro, Maurício Gugelmin, que correu as temporadas de 1988 e 1989 pela March, 1990 e 1991 pela Leyton House, e 1992 pela Jordan. Seu melhor resultado foi um terceiro lugar no GP do Brasil de 1989. A única alteração no calendário de 1988 foi a saída do GP da Áustria para a volta do GP do Canadá.

E assim chegamos a 1989, uma das temporadas mais disputadas da Fórmula 1, graças, em parte, à proibição da FIA aos motores turbo, valendo a partir deste ano. Todas as grandes equipes voltaram a correr com motores aspirados, enquanto algumas das pequenas insistiram com atmosféricos. Os que achavam que o domínio da McLaren iria acabar por causa disso se enganaram, pois Senna e Prost foram mais uma vez os destaques da temporada. O brasileiro conseguiu seis vitórias contra quatro do francês, mas os resultados das demais provas fizeram com que Prost ficasse com o título. Esta temporada ficou famosa pelo incidente no GP do Japão, quando Prost supostamente bateu em Senna de propósito para tirar os dois da corrida e assegurar seu título. Senna conseguiu voltar para a pista e vencer a prova, mas foi desclassificado por ter recebido ajuda dos fiscais para fazê-lo. Piquet, com uma Lotus capenga, não conseguiu resultados expressivos, e terminou o campeonato na oitava posição. No calendário, a única mudança foi o GP dos Estados Unidos Leste, que passou a se chamar simplesmente GP dos Estados Unidos, e a ser disputado em Phoenix.

Ok, o fim está próximo! A seguir, a década de 1990!

Série Fórmula 1

1980-1989

Ler mais